São Gregório Magno, autor napolitano anônimo, Museu do Castel Nuovo |
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de política internacional, sócio do IPCO, webmaster de diversos blogs |
São Gregório Magno, Papa, é considerado o fundador da Idade Média no Ocidente. Sua festa é no dia 12 de maio, mas no calendário atual se celebra no dia 3 de setembro. É o pai do canto gregoriano que tem esse nome em honra a ele.
Do "Dictionnaire de la Conversation et de la Lecture" (William Duckett, 2ª Edição, de 1868, Volume 10, págs. 556 e 557)
“São Gregório nasceu em Roma, em torno do ano 540, filho do rico Senador Gordien. Foi elevado à dignidade de Pretor pelo imperador Justino, o Jovem. Gregório se fez notar pelas luzes de seu espírito, a maturidade de seu julgamento e um amor extremo da justiça. A única coisa que se imputava a ele era um grande luxo e um esplendor inteiramente mundano em suas roupas e em seus hábitos
“Gregório, cuja piedade tinha lutado incessantemente contra seu fausto, de repente fundou sete mosteiros, distribui aos pobres seus ricos trajes, seus preciosos móveis, e tomou o hábito monástico e em breve, se tornou abade, contra sua vontade.
“Impressionando pela beleza de alguns jovens ingleses expostos como escravos à venda obteve do papa Bento I a autorização de ir pregar a fé na Grã-Bretanha. Mas mal se pôs a caminho, o clero e o povo forçaram o Papa chamá-lo de volta.
“Na morte do papa Pelágio, as aclamações de Roma inteira o chamaram ao pontificado. Gregório fugiu da Cidade Eterna e escreveu ao imperador para lhe suplicar de não o confirmar na sua eleição e escondeu-se numa caverna. Mas o povo o descobriu, levou-o a Roma e o entronizou, apesar dele, no dia 13 de Setembro de 590.
“Seu palácio tomou todas as aparências de um mosteiro; sua igreja mesmo, era sem fausto e sem pompas. Suas rendas foram consagradas ao alívio dos pobres. Sua constante ocupação era a instrução do povo. De acordo com o imperador Maurício, ele acabou com o cisma dos bispos da Ístria. (...) A conversão dos lombardos e a destruição do arianismo foram também sua obra. (...)
“Seus missionários, partidos em 595, sob a direção do monge Agostinho, chegaram dois anos depois ao reino de Kent, na Grã-Bretanha, onde a Rainha Berta já tinha preparado seu triunfo. O rei Ethelbert e uma grande parte de seu povo se converteram. (...)
São Gregório Magno escrevendo, Francisco de Goya (1746 — 1828),
Museo Nacional del Romanticismo, Madrid
“Ele reformou a liturgia e a disciplina, compôs um Antifonário, regulou a ordem dos salmos, as orações, os cânticos. Institui uma academia de cantores e, de chicote em punho, dava lições de cantochão aos jovens clérigos. (...)
“Quanto aos templos dos pagãos, queria que fossem transformados em Igrejas. (...)
“A gota o retinha frequentemente no leito mas suas horríveis dores não detinham a atividade prodigiosa de seu espírito. Nenhum papa escreveu mais cartas do que ele (...)
“Tinha um tato maravilhoso para distinguir a verdade da calúnia nas acusações que lhe chegavam contra os padres. Os falsários, os bruxos os simoníacos, os cismáticos, tiveram nesse papa um adversário terrível.
“Ele morreu no dia 12 de Março de 604, depois de treze anos, seis meses e dez dias de pontificado.
“É com Santo Ambrósio, Santo Agostinho e São Jerônimo, um dos quatro grandes doutores da Igreja Latina”.
São Gregório Magno foi o verdadeiro fundador da Idade Média. Ele fechou a última réstia da antiguidade pagã, e abriu a porta para a idade nova que ia nascer.
Combateu os restos do paganismo determinando que as últimas igrejas pagãs fossem transferidas para o culto católico.
Ele exterminou a praga do arianismo, acabou com a imoralidade e inconvenientes da era antiga e nos aparece como o construtor da era nova.
Ele é fundador de conventos e foi, ele mesmo, superior de convento; de outro lado, trabalhou pelo cantochão [por causa dele chamado “canto gregoriano”].
É pitoresca a imagem do grande papa, Doutor da Igreja, político eminente, não de vareta em punho, mas de chicote em punho ensinando cantochão para os seus alunos.
A imagem pediria uma iluminura, ou talvez um vitral.
Com a fundação do cantochão deu voz à Idade Média, porque foi a grande voz cantante da Idade Média, e deu seu caráter à vida beneditina criada por São Bento lhe comunicando seu cunho de firmeza e definição.
São Gregório Magno ensina o 'gregoriano' aos estudantes, catedral de Nossa Senhora, em Edinburgo, Escócia |
Nós o vemos deitar as sementes da Idade Média e tratar, inutilmente, da grande chaga da Cristandade naquele tempo: o Império Romano do Oriente cada vez mais tendente ao cisma.
Por fim, acabou ruindo, mas ele tentou segurar esse muro da cidade de Jesus Cristo que caiu pela suma ingratidão de Bizâncio diante do zelo dos papas.
Um homem como São Gregório Magno pode chegar até a ser bem quistos mas não chega a arrancar a cidade maldita, pervertida, da sua imoralidade, moleza, imprevidência e de seu pendor para a heresia.
Ele analisou todos os problemas do tempo, os enfrentou, e escreveu obras que foram pilares do pensamento medieval. Vida riquíssima, admirável, toda voltada ao serviço da Igreja Católica e da Civilização Cristã.
Se São Gregório ressuscitasse hoje, o que diria?
O que do alto do Céu diria deste mundo de hoje, tão diferente do mundo que conheceu?
Ele viveu numa época dura, de desordem, de crimes aberrantes.
Mas que povo! Um povo que participava dos males da época, aclamava um santo como papa; e o santo fugia do povo e o povo ia no encalço do santo e o colocava no papado.
Era um povo capaz de discernir um santo de quem não era santo e preferia o santo ao não santo.
Hoje seria a mesma coisa?
São muitos o que fogem do papado?
O povo iria ao encalço do santo para o levar ao papado?
Como tudo mudou...
Vamos pedir a São Magno, que trabalhe para conseguir que a nossa época, depois das punições purificadoras pelas quais ela deve passar, se transforme numa nova Idade Média, ainda mais requintada.
Ele que foi um dos fundadores da gloriosíssima Idade Média compreenderá o pedido.
(Fonte: trechos seletos de palestra de Plinio Corrêa de Oliveira proferida o dia 11 de março de 1967, apud PlinioCorreadeOliveira.info. Sem revisão do autor)
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Hino ao Deus Criador Lucis Creator Optime
São Gregório Magno (540-604), usado no Breviário Romano às Vésperas aos Domingos após a Epifania e aos Domingos após o Pentecostes.
Na Liturgia Horarum é usado para as Vésperas do Domingo à tarde para a primeira e terceira semanas do Saltério.
LUCIS Creator optime
Criador generoso da luz,
lucem dierum proferens,
que criastes a luz para o dia,
primordiis lucis novae,
com os raios primeiros da luz,
mundi parans originem:
sua origem o mundo inicia.
Qui mane iunctum vesperi
Vós chamastes de dia
diem vocari praecipis:
o decurso da manhã luminosa ao poente.
tetrum chaos illabitur,
Eis que as trevas já descem à terra:
audi preces cum fletibus.
escutai nossa prece clemente.
Ne mens gravata crimine,
Para que sob o peso dos crimes
vitae sit exsul munere,
nossa mente não fique oprimida, e,
dum nil perenne cogitat,
esquecendo as coisas eternas,
seseque culpis illigat.
não se exclua do prêmio da vida.
Caeleste pulset ostium:
Sempre à porta celeste batendo,
vitale tollat praemium:
alcancemos o prêmio da vida,
vitemus omne noxium:
evitemos do mal o contágio,
purgemus omne pessimum.
e curemos da culpa a ferida.
Praesta, Pater piissime,
Escutai-nos, ó Pai piedoso,
Patrique compar Unice,
com o único Filho também,
cum Spiritu Paraclito
que reinais com o Espírito Santo
regnans per omne saeculum. Amen
pelos séculos dos séculos. Amém.
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