domingo, 26 de fevereiro de 2023

O anel de Santa Cunegunda

Santa Cunegunda, capela de Nossa Senhora, Budapest, Hungria
Santa Cunegunda, capela de Nossa Senhora, Budapest, Hungria
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de
política internacional,
sócio do IPCO,
webmaster de
diversos blogs








O príncipe Boleslau V o Casto procurava uma esposa em algum país vizinho.

Tinha que ser uma princesa e o casamento se decidia na base de cálculos políticos.

Foi assim que ele decidiu casar-se com a princesa Kinga, ou Cunegunda (1224-1292), filha do rei da Hungria.

Ela era a filha bem-amada do rei Bela IV e de Santa Isabel da Hungria, e irmã de Santa Margarida da Hungria.

A bela princesa húngara deu sua mão ao príncipe polonês.

Ela tinha um espírito fino e esclarecido, e pediu a seu pai um dote fora do comum. Contudo não pediu ouro nem dinheiro, nem belos panos, mas um presente que contribuiria muito para a prosperidade de sua nova pátria.

Naquela época o sal era um elemento raríssimo e o rei Bela ofereceu à filha uma das minas de sal que faziam a riqueza da Hungria.

Porém, a mina ficava muito longe da Polônia e a princesa percebia que seria difícil tirar proveito dela.

Ela foi, então, visitar a mina e decidiu levá-la consigo até sua futura pátria.

Para isso, arrancou inesperadamente um anel precioso de sua mão e jogou-o no poço mais fundo da mina, invocando São Francisco e Santa Clara de Assis.

Santa Cunegunda na mina de sal de Wieliczka
Santa Cunegunda na mina de sal de Wieliczka
Pouco tempo depois Cunegunda partiu para a Polônia escoltada por cavaleiros poloneses e húngaros.

Os primeiros meses que ela passou no castelo real de Cracóvia lhe fizeram descobrir e experimentar sua nova vida e seus novos servidores pobres e sacrificados.

Quanto mais passava o tempo, mais ela compreendia que era preciso fazer algo para a felicidade de seus vassalos.

Certo dia, ela pediu a seu esposo licença para procurar um lugar onde cavar para tirar o sal.

No dia seguinte, um grande cortejo acompanhou o casal real, que deixou a cidade e se deteve pela noite na pequena aldeia de Wieliczka, perto de uma floresta.

Cunegunda decidiu intuitivamente que não era necessário ir muito mais longe. Era ali que era preciso escavar. Os trabalhos começaram pela manhã.

Não se sabe ao certo quanto demoraram até acharem os primeiros blocos de sal. O fato é que a jovem rainha acompanhava os trabalhos de perto.

Ela até entrou no poço e acabou saindo alegremente com as primeiras pedras de sal.

Um dia, a soberana percebeu que entre os blocos de sal havia uma coisa que brilhava.

Cunegunda se inclinou, afastou a poeira e recuperou o anel que tinha jogado na mina de Hungria invocando seus padroeiros franciscanos.

Capela de Santa Cunegunda na mina de sal de Wieliczka
Capela de Santa Cunegunda na mina de sal de Wieliczka
Era bem o mesmo, o anel oferecido outrora por seu pai em sua terra natal.

Então ela ficou bem segura. Havia escolhido o local certo para tirar o sal.

Desde então o sal da mina de Wieliczka trouxe muita riqueza para Cracóvia e para a Polônia inteira.

Mas Cunegunda não deixava de procurar meios para tornar seu povo sempre mais próspero.

Ocupava-se cuidadosamente dos vassalos e fazia muita caridade.

Após a morte do rei seu marido, Cunegunda se retirou para um mosteiro fundado por ela mesma em Nowy Sacz e adotou o hábito de religiosa.

Lá ela dorme o sono da bem-aventurança eterna.

Muitos anos depois foi canonizada. E Santa Cunegunda é hoje uma das padroeiras da Polônia e da Lituânia.

(Fonte: “Légendes de Cracovie”, Wydawnictwo Wam, Cracóvia, 1972, p. 32 a 35)



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domingo, 5 de fevereiro de 2023

“Lembrai-vos”: a oração de São Bernardo
que comove o coração de Nossa Senhora

Madonna Lochis, C.Crivelli, Bergamo, Itália
Madonna Lochis, C.Crivelli, Bergamo, Itália
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de
política internacional,
sócio do IPCO,
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diversos blogs




O Lembrai-vos é uma oração a Nossa Senhora, também conhecida como “Memorare” (do nome em latim) ou como “Oração de São Bernardo” (a quem é atribuída a autoria).

No século XVI, o Pe. Claude Bernard divulgou extraordinariamente esta piedossísima oração.

A oração em Português:
Lembrai-vos, ó puríssima Virgem Maria,
que nunca se ouviu dizer
que algum daqueles que têm recorrido à vossa proteção,
implorado a vossa assistência,
e reclamado o vosso socorro,
fosse por Vós desamparado.
Animado eu, pois, com igual confiança,
a Vós, o Virgem entre todas singular,
como a Mãe recorro, de Vós me valho e,
gemendo sobre o peso dos meus pecados,
me prostro a vossos pés.
Não rejeiteis as minhas súplicas,
ó Mãe do Verbo de Deus humanado,
mas dignai-Vos de as ouvir propícia,
e de me alcançar o que vos rogo.
Amén.


Nossa Senhora de Avioth, França
Nossa Senhora de Avioth, França
Em Latim
MEMORARE, O piissima Virgo Maria,
non esse auditum a saeculo,
quemquam ad tua currentem praesidia,
tua implorantem auxilia,
tua petentem suffragia,
esse derelictum.
Ego tali animatus confidentia,
ad te, Virgo Virginum, Mater, curro, ad te venio,
coram te gemens peccator assisto.
Noli, Mater Verbi, verba mea despicere;
sed audi propitia et exaudi.
Amen.

Na lindíssima oração do “Memorare” cada palavra tem sua aplicação.

“Lembrai-Vos, ó Piíssima Virgem Maria...”, o que quer dizer aí, “Piíssima”?

Piedosa, o superlativo é piedosíssima. Mas a gente resume dizendo “piíssima”.

Mas “piedosa” aqui, não quer dizer pessoa que reza muito. Quer dizer a pessoa que tem muita piedade, muita compaixão dos outros.

Nossa Senhora com o Menino Jesus. Igreja de Todos os Santos, Londres
Nossa Senhora com o Menino Jesus. Igreja de Todos os Santos, Londres
Poderia dizer portanto, “Lembrai-Vos, ó Compassivíssima Virgem Maria”, que tem muita compaixão, que perdoa muito, etc., etc.

“... que nunca se ouviu dizer ...”. Notem bem “nunca se ouviu dizer”. “Nunca” quer dizer em nenhum tempo e em nenhum lugar de toda a terra.

“... que tendo alguém recorrido a Vossa proteção ...”, quer dizer tendo alguém pedido que Vós a protegeis.

“ ... implorado a vossa assistência ...”, quer dizer implorado que o acompanheis, que olheis para ele, que o sigais.

“... e reclamado o Vosso socorro ...”, é evidente o sentido.

“... fosse por Vós desamparado ...”, é uma linda proclamação.

Então, em nenhuma época do mundo, a Virgem Maria deixou de atender àqueles que pedem a Ela. Em nenhum caso, em nenhuma circunstância, deixaram de ser atendidos.

Então, é também conosco, se um de nós tem a infelicidade de pecar. Pior ainda, se um de nós tem a infelicidade de um vício, de uma atitude moral ou imoral, que se repete.

Não faz mal, reze e peça, reze e peça, porque no fundo Nossa Senhora acabará tendo pena.

“... Animado, eu pois, com tal confiança ...”, quer dizer, por este motivo.

“... a Vós, ó Virgem entre todas singular ...”, quer dizer, “Vós que sois mais virgem do que todas as virgens, a Santa Virgem das virgens”.

“ ... ó Vós entre todas singular, como Mãe recorro e de Vós me valho ...”, quer dizer, “Vós sois minha Mãe, Vós sois Mãe de Nosso Senhor Jesus Cristo, mas Vós sois Mãe de todos os homens.

Nossa Senhora do Carmo, Portugal
Nossa Senhora do Carmo, Portugal
E sendo Mãe de todos os homens, sois minha Mãe! Eu serei o último dos homens, mas Vós sois a mais alta e a mais excelsa de todas as mães.

E vossa compaixão vale mais do que merecem todos os meus pecados. Se meus pecados são um abismo, a vossa compaixão é uma montanha muito maior do que esse abismo.”

“... e gemendo sobre o peso dos meus pecados, me prosto aos vossos pés...” A pessoa então, é um pecador que geme. Pecou tanto que ele está gemendo sobre os pesos de seus pecados, mas se põe aos pés da Virgem Santíssima.

“... Não desprezeis as minhas súplicas, ó Mãe do Verbo de Deus humanado...”, quer dizer, “Mãe, ó Vós que sois a Mãe de Jesus Cristo, o Verbo que se fez homem, não desprezeis a minha súplica.”

Quer dizer, eu sei que dá para desprezar minhas súplicas porque por si mesmas não são nada. Mas, não desprezeis essas súplicas porque eu sou vosso filho. E um filho pode pedir isso a uma mãe.

O coração da mãe está sempre aberto para perdoar, para amar, para afagar, etc., etc. Sobretudo Nossa Senhora, que é a Mãe das mães, a perfeição das perfeições.

“... mas dignai-Vos de ouvir propícia...”, quer dizer, dignai de ouvir. “Propícia” quer dizer favoravelmente, com boa vontade, com boa disposição.

Nossa Senhora da Flor de Lys
Nossa Senhora da Flor de Lys
“... e alcançar o que Vos rogo. Assim seja.”, e alcançai-me aquilo o que eu estou Vos pedindo. É a emenda de um defeito, emenda de um vício, aquisição de uma virtude, etc., etc.

Considerando tudo quanto a Igreja ensina sobre Nossa Senhora, temos todos os motivos para achar que Ela vai acabar obtendo. E portanto, nós pedimos a Ela, com muito empenho, com muito ardor.

Numa canção litúrgica muito bonita e piedosa, Nossa Senhora é chamada: — em latim: Montanha de todas as virtudesMaria mons.

Ela é a fonte de todas as graças: Maria fons. E por fim, Maria pons: Ela é a ponte por cima de todos os abismos.

“Nós vos pedimos, Senhora, quando pensamos que Vós sois tudo quanto sois, que nós não somos senão aquilo que nós somos.

“Mas que nunca, nunca, nunca, Vós deixareis de olhar com boa vontade para o filho que pede a Vossa assistência. Nós pedimos com insistência, tende pena de nós e acabai arrancando dos nossos pecados.”

Nós seremos atendidos!


Fonte: Plinio Corrêa de Oliveira, palestra em 21/9/91. Texto sem revisão do autor.





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