São Rafael Arcanjo: ministro de Corte real e celeste

São Rafael Arcanjo, igreja dos Santos Felipe e Tiago, Oxford

Luis Dufaur

Escritor, jornalista,
conferencista de
política internacional,
sócio do IPCO,
webmaster de
diversos blogs

São Rafael Arcanjo é um dos sete Anjos que assistem diante de Deus com a missão de lhe apresentar as preces dos homens.

Uma das noções que “a fumaça de Satanás” infiltrada na Igreja mais tenta apagar nas almas é que o Céu constitui uma verdadeira Corte.

Antes da republicanização da religião falava-se muito da Corte Celeste. Aprendia-se já no primeiro catecismo e a pompa que rodeava ao Papa era a imagem fiel dela.

A ideia de uma Corte Celeste se funda na ideia de que Deus está perante os anjos e santos como o rei perante sua Corte no Palácio.

E algumas coisas próprias das Cortes reais na Terra, pela similitude entre a Terra e do Céu, existem na Corte Celeste também.

Um protocolo monárquico, quer dizer o modo de reger os servidores do rei de maneira que todas as coisas se passem de modo prático, simples, decoroso, facilitando a vida do rei.

Nas grandes ocasiões, o rei atendia os visitantes rodeado pelos príncipes da casa real, de pessoas da alta nobreza, e pajens colhendo as preces trazidas por escrito.

O interessado dizia ao rei o que pedia, e alguém chegado ao interessado podia dizer uma palavra ao rei, ou também falava alguma pessoa de alta categoria. Depois a pessoa entregava a um dignitário um rolo de papel com o pedido, que o rei examinava depois.

Ao rei se chega por degraus de uma hierarquia que é a Corte. Esse mecanismo é de uma Corte.

Na Corte Celeste existem protocolos análogos. Deus, Nosso Senhor que, não precisa de ninguém, tendo criado seres diversificados, era natural que lhes entregasse funções e que esses seres pusessem brilho, esplendor e dignidade na mansão celeste.

O contrário disso está nas fotografias de ditadores populistas modernos.

O demagogo sindicalista aparece apertado entre uma pilha de gente diante de vinte, trinta microfones, interrompe o discurso para dar ordens, contar piada, em discursos de horas à la Fidel Castro; para, bebe, canta, conversa com outros numa bagunça sem ordem, nem compostura, nem dignidade, e essa carência é chamada de igualdade e democracia.

Nas Cortes serenas, aristocrático-monárquicas, nós temos o oposto: uma hierarquia harmônica que sobe e que desce e que é a própria imagem do Céu.

A festa de São Rafael (24 de outubro) nos apresenta um intercessor celeste, de uma alta categoria, que leva nossas preces a Deus porque está mais próximo para pedir por nós as graças que desejamos.

A consideração de São Rafael nos aumenta o desejo de que as realidades terrestres sejam semelhantes às realidades celestes.

São Rafael Arcanjo, Córdoba, Espanha

Apenas na medida em que nós amarmos as realidades terrestres parecidas com o Céu é que nós preparamos a nossa alma para o Céu.

Se morrermos sem apetência das realidades terrestres parecidas com as celestes, nós não temos apetência do Céu.

O espírito de hierarquia, de distinção, de nobreza, de elevação, é verdadeira preparação para o Céu.

Essa preparação é muito mais desejável quando nós vamos afundando num mundo de horror, onde cada vez mais todas as exterioridades vão ficando monstruosas, caóticas, desorganizadas.

Para não afundar no desespero é indispensável pousar nossas vistas extenuadas e doloridas em algo que anda bem.

Não é próprio ao homem viver num “mare magnum” de coisas que afundam, caem e se deterioram. Precisamos ter algo que seja nossa alegria e nossa esperança.

Tudo quanto é digno está desaparecendo na Terra e nós devemos pôr a nossa esperança no Céu ou nós não teremos condições psíquicas de sobrevivência na Terra.

A gente poder saber algo a respeito da mentalidade de São Miguel visitando a Abadia do Mont Saint-Michel, na França.

E de São Rafael?

Certa feita, uma alma santa viu o seu próprio Anjo da Guarda. Era um ser tão elevado, nobre e excelso, que ela pensou ser o próprio Deus.

O anjo teve que explicar a ela que ele era um Anjo da Guarda.

Nós sabemos que os Anjos da Guarda são da hierarquia menos alta que existe no Céu.

Como nós podemos imaginar o anjo São Rafael que é das mais altas hierarquias?

Nós poderíamos imaginar, por exemplo, São Rafael tratando com Nossa Senhora, da maneira que São Luís, Rei de França, tratava com sua mãe Branca de Castela.

Ele era um homem de alto porte, de grande beleza, imponente, que atraía, incutia respeito profundo e suscitava um grande amor. Ele tinha o todo de um guerreiro, mas era o Rei mais pomposo e mais decoroso do seu tempo.

Este Rei, no qual transluziam todas as glórias da santidade podemos imaginá-lo, nos esplendores da corte da França, se dirigindo a Branca de Castela e falando a ela.

Quanta distinção, quanto respeito, quanta elevação, quanta sublimidade nessa cena!

Essa cena nos dá um pouco do que é São Rafael se dirigindo a Nossa Senhora.

São Luís era uma espécie de anjo da Terra, São Rafael é uma espécie de São Luís celeste.

Por essa transposição, podemos ter a ideia da alegria de que nós seremos inundados no Céu, quando pudermos contemplar um Arcanjo como São Rafael.

Peçamos a ele que algo dessas ideias penetrem em nós e que nos conforte a consideração dessa ordem ideal realmente existente.

São Rafael Arcanjo, castelo de Edimburgo, museu

Assim uma esperança do Céu e do reinado de Maria removerá a tristeza crescente que irradiam os dias em que afundamos tão rapidamente.

No Antigo Testamento, o Arcanjo Rafael é citado no Livro de Tobias, no início de suas aparições ao jovem Tobias:

“Tendo saído, deparou-se-lhe o anjo Rafael, sem demonstrar, todavia, ser um anjo de Deus” (Tb 5,4).

No capítulo seguinte vê-se porque sua imagem o mostra segurando um peixe:

É que o grande peixe que tentou devorar Tobias e que o anjo lhe ordenou que o dominasse para tirar-lhe o fel para devolver a visão ao pai de Tobias, e o fígado para “remédios muito eficazes”. (Tb 6,2 ss)

No fim, Rafael se dá a conhecer como anjo de Deus: “Eu sou Rafael, um dos sete santos anjos que assistem e têm acesso à majestade do Senhor” (Tb 12,15).

Não é mencionado no Novo Testamento, mas a tradição o identifica como o anjo que agitava as águas na piscina chamada de “Betesda” “onde jazia um grande número de enfermos, de cegos, de coxos e de paralíticos, que esperavam o movimento da água” (João 5,4)

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