domingo, 22 de julho de 2018

“Adoro te devote” (“Adoro-Vos devotamente”)
hino a Jesus Sacramentado

Igreja das Bernardinas, Cracóvia, Polônia
Igreja das Bernardinas, Cracóvia, Polônia
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de
política internacional,
sócio do IPCO,
webmaster de
diversos blogs






Adoro te devote é um dos cinco hinos que Santo Tomas de Aquino compôs em louvor de Jesus presente no Santíssimo Sacramento incluídos em el Missale Romanum de 1570 após o Concilio de Trento (1545–1563).

As circunstâncias em que foram escritos são famosas. O Papa Urbano IV instituiu para a Igreja a festa solene de Corpus Christi com a bula Transiturus em 8 de setembro de 1264, impulsionado definitivamente pelo Milagre de Bolsena.

Na ocasião o Papa estava em Orvieto quando numa pequena cidade vizinha chamada Bolsena, ocorreu o Milagre. Um sacerdote que duvidava da transubstanciação na Santa Missa, no momento de partir a Sagrada Hóstia, saiu dEla sangue em tal abundância que empapou o corporal (pano onde se apoiam o cálice e a patena durante a Missa) e se derramou pelo chão do altar.

O padre correu a Orvieto para contar ao Papa o acontecido. Urbano IV mandou conferir o fato e ante as evidências irrefutáveis instaurou a festa de Corpus Christi.

O corporal empapado do Divino Sangue é esplendidamente conservado na basílica de Orvieto construída para esse efeito e é levado na procissão de Corpus Christi todos os anos.

Em Bolsena é venerado o chão manchado com o mesmo Sangue do Milagre.

O mesmo Papa pediu também a Santo Tomás de Aquino e São Boaventura que se encontravam com ele que compusessem os hinos para a Missa de Corpus Christi.

Quando Santo Tomás de Aquino começou a ler o que tinha composto, São Boaventura rasgou os seus. Os outros hinos e sequências são:

Santo Tomás de Aquino compõe os hinos do ofício de Corpus Christi. Bandeira bordada, Santa Rosa, Springfield, EUA.
Santo Tomás de Aquino compõe os hinos do ofício de Corpus Christi.
Bandeira bordada, Santa Rosa, Springfield, EUA.
Ave Verum (veja mais e ouça em: Na festa de Corpus Christi, o hino “Ave Verum” (“Salve, ó verdadeiro corpo”)

Lauda Sion (o muito cantado Panis Angelorum é a parte final)

— O Salutaris Hostia (parte final do Verbum supernum prodiens)

Pange Lingua (veja mais e ouça em: São Tomás de Aquino e o hino Pange Lingua: “Canta ó língua, o glorioso mistério do Corpo e do Sangue precioso”)

Panis angelicus (parte mais cantada do hino Sacris solemnis)


O “Adoro te devote” foi cantado como Hino Eucarístico durante a Santa Missa em louvor do Santíssimo. Sacramento – Corpus Christi.

Mas é tanta sua unção sobrenatural que passou a ser cantada também na Adoração Eucarística e bênçãos eucarísticas em geral.

Tudo indica que Santo Tomás de Aquino já a tinha composto previamente como uma oração privada para adoração pessoal do Santíssimo. Sacramento.

A necessidade do momento revelou a sublimidade do relacionamento interior pessoal do “Doutor Angélico” com Jesus presente na Hóstia verdadeira e substancialmente em Corpo, Sangue, Alma e Divindade.

O “Adoro te devote” hoje é cantado em todo o mundo católico onde há sincera devoção a Jesus Sacramentado.

A continuação apresentamos o texto em seu original latino com a tradução em português.


1. Adóro te devóte, latens Déitas,

Adoro-Vos devotamente, ó divindade escondida,

Quæ sub his figúris vere laetitas:

que sob estas figuras está velada realmente.

Tibi se cor meum totum súbjicit,

Meu coração a Vós se submete plenamente,

Quia te contémplans totum déficit.

e contemplando-Vos, desfalece inteiramente.


2. Visus, tactus, gustus in te fállitur,

Vista, tato, paladar aqui se enganam,

Sed audítu solo tuto créditur:

mas o que ouço sustenta a minha Fé.

Credo quidquid dixit Dei Fílius:

Creio no que disse o Filho de Deus:

Nil hoc verbo veritátis vérius.

nada é mais verdadeiro, porque sua palavra é Verdade.


3. In cruce latébat sola Déitas,

Na Cruz estava oculta só a divindade;

At hic latet simul et humánitas:

aqui também se oculta a humanidade.

Ambo tamen credens atque Cónfitens,

Contudo, em ambos creio e confesso.

Peto quod petívit latro pénitens.

Peço o que pedia o ladrão penitente.


4. Plagas, sicut Thomas, non intúeor:

As chagas, como Tomé, não as vejo.

Deum tamen meum te confíteor:

Porém meu Deus, contudo, vos confesso.

Fac me tibi semper magis crédere,

Fazei-me em Vós sempre mais e mais crer,

In te spem habére, te dilégere.

em Vós esperar, e Vos amar.


5. O memoriále mortis Dómini,

Ó lembrança da morte do Senhor,

Panis vivus vitam præstans hómini,

Pão vivo que dais a vida ao homem.

Præsta meæ menti de te vívere,

Concedei à minha alma em Vós viver,

Et te illi semper dulce sápere.

e a ela seja doce Vos conhecer.


6. Pie pellicáne Iesu Dómine,

Piedoso pelicano, Senhor Jesus,

Me immúndum munda tuo sánguine,

a mim, imundo, purificai-me por vosso Sangue,

Cuius una stilla salvum fácere

do qual uma só gota

Totum mundum quit ab omni scélere.

pode salvar o mundo inteiro, de todos os seus crimes.


7. Iesu, quem velátum nunc adspício,

Ó Jesus, que velado agora vejo,

Oro, fiat illud quod tam sítio,

peço-Vos que se faça aquilo que tanto desejo.

Ut te reveláta cernens fácie,

Que eu possa Vos contemplar face a face, e

Visu sim beátus tuæ glóriæ. Amen.

veja, pleno de gozo, a vossa glória. Amém.



Uma meditação

Imaginemos Alguém faz comigo assim: eu sou ingrato para com Ele, mas apesar disso todos os dias Ele está no Santíssimo Sacramento a minha espera, e Ele me acompanha com a graça o dia inteiro.

Andando de carro, por vezes à noite, podemos passar perto de uma igreja. Ainda que do lado de fora podemos perceber que estamos a pequena distância da capela do Santíssimo.

Ali dentro está o tabernáculo.

Podemos pensar: que maravilha deve estar se passando dentro dessa capela.

E pensar que é assim em qualquer capela do Santíssimo Sacramento.

Às duas, às três horas da noite, no auge da solidão; Nosso Senhor está dizendo para as outras Pessoas da Santíssima Trindade coisas inenarráveis.

Os anjos e santos todos ali presentes, adorando.

Imaginar aquele silêncio próprio que impregna a capela do Santíssimo. É um desses silêncios onde os menores estalidos se ouvem.

Onde os ruídos da rua passam cortando o ar como profanações, mas cessam imediatamente também.

E depois o longo e grosso silêncio da solidão, do abandono, do recolhimento. Que coisa magnífica aquela soledade!

A luzinha daquela lamparina vermelha.

Como a gente gostaria de poder abrir a igreja, àquela hora da noite, entrar sozinho na capela do Santíssimo Sacramento e ficar o resto da noite rezando lá.

Ter essa sensação de que Nosso Senhor está ali só para a gente, e que a gente penetra, a bem dizer, no Coração dEle como penetra dentro da capela do Santíssimo Sacramento.

Ter ali uma imagem de Nossa Senhora para quem rezar.

Ficar envolto ali dentro nesse mistério de fluxo de orações até às primeiras claridades da aurora. E' verdadeiramente celeste, ainda que seja uma coisa insensível.

São João Batista ia para o deserto rezar, Nosso Senhor ia para o deserto rezar.

Deus está tão presente nos desertos quanto nas cidades, mas há uma graça da solidão total do deserto, onde se tem a impressão de que Deus, na solidão dEle, se manifesta melhor ao homem, em que Ele como que abraça o homem, e o homem como que pode abraçá-lo melhor também.

Este é exatamente o “deserto eucarístico” que reina numa capela do Santíssimo Sacramento à noite.

Pensando nisso, dá vontade de, numa noite, parar o automóvel bem junto à parede da capela do Santíssimo e ficar adorando, do lado de fora.

Nos automóveis que passam a toda velocidade, qual a alma que se lembra de Deus ali enclaustrado na solidão?

Qual a alma capaz de fazer uma jaculatória, pelo menos, ao Santíssimo Sacramento?

Pior. Quantos estão vindo, indo ou descansando no pecado. Naquele trânsito o abandono de Nosso Senhor ainda fica mais pungente.

Quantas ofensas, àquela hora, estão sendo cometidos contra Ele naquelas danceterias ou locais de pecado!

Quantas almas que comungam todos os dias, passam pela capela e não têm um pensamento para essa situação.

Ninguém! Acontece, acontece.

Que mistério houve, para que considerações sumamente tocantes como estas tenham cessado de ser feitas ou não tocam mais os corações?

A Revolução gnóstica e igualitária instaurou na alma humana uma forma de dureza, de frieza, que “gastou” essas coisas e fechou as almas para isso.

(Adaptação de uma meditação composta por Plinio Corrêa de Oliveira)


Vídeo: “Adoro te devote” (“Adoro-Vos devotamente”) hino a Jesus Sacramentado





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