Profeta Jeremias, igreja de Santa Maria de Castro, Leicester |
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de política internacional, sócio do IPCO, webmaster de diversos blogs |
Lamentações do Profeta Jeremias, 1
1. Alef. Como está abandonada a cidade tão povoada! Assemelha-se a uma viúva a grande entre as nações. Rainha entre as províncias, ficou sujeita ao tributo.
2. Bet. Ela chora pela noite adentro, lágrimas lhe inundam as faces, ninguém mais a consola de quantos a amavam. Seus amigos todos a traíram, e se tornaram seus inimigos.
3. Guimel. Judá partiu para o exílio em miséria e dura servidão. Habita entre as nações sem achar repouso. Atingiram-no seus perseguidores entre as suas fronteiras.
4. Dalet. Estão de luto os caminhos de Sião, e ninguém mais vem às suas festas. Suas portas todas estão desertas, gemem seus sacerdotes, afligem-se as virgens, e ela mesma vive na amargura.
5. He. Apossaram-se dela seus opressores, e tranqüilos vivem seus inimigos, pois o Senhor a aflige por causa do número de seus crimes.
Partiram cativos os seus filhos diante do opressor.
6. Vau. Desapareceu da filha de Sião toda a sua glória. Seus príncipes se tornaram como cervos que não encontraram pastagens e que fogem, esgotados, diante dos que os perseguem.
7. Zain. Nestes dias de males e vida errante, recorda-se Jerusalém das delícias dos tempos idos.
Agora que seu povo sucumbiu sob os golpes do inimigo e ninguém vem socorrê-la! Olham-na seus inimigos, e zombam de sua devastação.
8. Het. Graves foram os pecados de Jerusalém: ela ficou uma imundície. Quem a honrava, agora a despreza porque lhe viram a nudez. E ela geme e esconde o rosto.
9. Tet. Vê-se sua mancha sobre suas vestes. Ela não previra esse fim. É imensa a sua decadência, e ninguém vem consolá-la.
Olhai, Senhor, para a minha miséria, porque o inimigo se ensoberbece.
10. Iod. O adversário lançou a mão sobre todos os seus tesouros. E ela viu os pagãos penetrarem em seu santuário, aqueles dos quais dissestes que não entrariam em vossa assembleia.
11. Caf. Geme todo o seu povo à procura de pão. Por víveres troca suas joias a fim de recuperar as forças. Vede, Senhor, e considerai o aviltamento a que cheguei!
12. Lamed. Ó vós todos, que passais pelo caminho: olhai e julgai se existe dor igual à dor que me atormenta, a mim que o Senhor feriu no dia de sua ardente cólera.
13. Mem. Até aos meus ossos lançou ele do alto um fogo que os devora. Sob meus passos estendeu redes e me fez cair violentamente, enchendo-me de pavor.
Eu ando amargurado o dia inteiro!
14. Nun. O jugo dos meus crimes está ligado pelas suas mãos. Pesa-me ao pescoço um feixe que faz vacilar minha força.
O Senhor me entregou em mãos das quais não posso libertar-me.
15. Samec. Rejeitou o Senhor todos os bravos que viviam em meus muros. Enviou contra mim um exército a fim de abater minha jovem elite.
O Senhor esmagou no lagar a virgem, filha de Judá.
16. Ain. Eis o motivo por que choro; fundem-se em lágrimas os meus olhos, porque ninguém a meu lado me consola, nem me alenta.
Vivem consternados os meus filhos, porque triunfa o inimigo.
17. Pe. Sião estende as suas mãos sem que ninguém a console. Mandou o Senhor contra Jacó inimigos sem conta. Jerusalém se tornou entre eles objeto de aversão.
18. Sade. O Senhor é justo, porque fui rebelde à sua voz. Escutai todos vós, ó povos, e vede a minha dor.
Minhas virgens e meus jovens foram conduzidos para o exílio.
19. Cof. Implorei a meus amigos e eles me iludiram. Meus sacerdotes e os anciãos pereceram na cidade enquanto buscavam alimento para revigorar as forças.
20. Res. Vede, Senhor, a minha angústia! Tremem minhas entranhas, e meu coração está perturbado por causa de minhas revoltas.
De fora mata a espada, de dentro alastra a morte.
21. Sin. Meus suspiros são ouvidos sem que ninguém me console.
Meus inimigos, vendo minha ruína, sentem-se felizes com a vossa intervenção.
Fazei vir o dia por vós predito! Que a mesma sorte lhes advenha!
22. Tau. Que todos os seus crimes vos estejam presentes!
Tratai-os como a mim me tratastes por todos os meus crimes!
Porque não cessam meus gemidos, e está doente meu coração.
Vídeo: Lamentação III do profeta Jeremias. In Coena Domini
Música: Tomás Luis de Victoria (Ávila, 1548 - Madrid, 1611)
Antifonario mozárabe de Silos. Siglo IX. Espanha.
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