domingo, 9 de agosto de 2020

Milagres no achado da Cruz de Monjardin

Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de
política internacional,
sócio do IPCO,
webmaster de
diversos blogs







Na igreja de Monjardin guarda-se uma preciosa cruz do século XII, quiçá a mais antiga de quantas cruzes paroquiais possui a Navarra.

Como não podia deixar de ser, sua origem se acha revestida de legendas.

A cruz apareceu ao Rei Sancho Garcés, quando conquistou dos mouros o castelo de Monjardin.

O monarca a ocultou, para evitar que os mouros a profanassem. Assim esteve muito tempo.

Ao norte de Monjardin há um lugar denominado Egusquiza (nome que significa “lugar do sol”), onde está situado o palácio dos Medranos, ricos homens de Navarra.

Certo dia um pastor desta casa apascentava seu rebanho no sopé do monte.

Quando se dispunha a conduzir o rebanho a pastos melhores, viu que uma cabra permanecia quieta em seu lugar, ao pé de uma árvore.

Chamou-a ao rebanho com insistência. Não lhe fazendo caso, ele armou sua funda e disparou uma pedra, que sacudiu o arbusto.

A cabra saiu correndo, espantada. O pastor achou que ali devia estar um grande pássaro, por causa do ruído feito e pelo mover-se das folhas.

Mal chegou correndo, viu entre os ramos a Santa Cruz. A pedra de sua funda havia acertado um dos braços dela.

Ficou enormemente perturbado. Arrependido e contrito pelo golpe que havia lhe acertado, exclamou, derramando abundantes lágrimas:

— Pudera Deus que, antes de eu atirar a pedra, me houvesse tirado o braço.

Nem bem acabou de pronunciar essas palavras, quando viu com assombro que seu braço direito estava imóvel.

Deus quis assim para que fosse fiel testemunho, digno de crédito, na hora de explicar esse mistério.

Monjardin, a cidade e a igreja
Deixou o pastor a cruz no campo, e foi dar a notícia a seu amo. Recebeu-a com alegria o senhor, cavaleiro de Medrano, que se dirigiu radiante ao campo, acompanhado pelo pastor.

Logo que o cavaleiro viu a relíquia, o pastor sentiu que podia novamente mover o seu braço, e levantou-a bem alto.

Tomou Medrano o caminho de sua casa e depositou a cruz na mais digna sala do palácio. À noite, quis desafogar seu coração agradecido, mas não encontrou a cruz no lugar onde a havia posto.

Voltou então ao lugar onde estivera no campo, e encontrou-a lá.

Receou que Deus se tivesse irritado por ter ele tomado a cruz com suas mãos pecadoras, e convocou o clero do lugar, para que religiosamente a levassem ao seu palácio. Isto se fez, deixando-a dignamente depositada.

Porém, ao ir de novo visitá-la, tampouco a encontrou.

O cavaleiro ficou então convencido de que era vontade de Deus que ali se levantasse uma ermida para a cruz, que se edificou no mesmo local da árvore, a uma légua de Estela, próximo de Villamayor.

Não se pôde averiguar o ano em que aconteceu o prodígio. O que se sabe é que, quando foram enterrar o rei Sancho, estava ali a cruz.



(José Maria Jimeno Jurio, “Leyenda del Camino de Santiago” - Diputación Foral de Navarra, 1977, p. 27)



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