domingo, 19 de abril de 2020

Povo clamou ao Cristo Milagroso e Ele extinguiu a epidemia. Hoje quem clama com fé?

Santíssimo Crucifixo Milagroso, San Marcello,Via del Corso, Roma.
Santíssimo Crucifixo Milagroso, San Marcello,Via del Corso, Roma.
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de
política internacional,
sócio do IPCO,
webmaster de
diversos blogs





Por volta do ano 1300, um belíssimo Crucificado, entalhado em madeira, pendia do altar-mor na igreja de São Marcelo, na Via del Corso, na Cidade dos Papas.

Essa rua corta o centro e tem um desenho excepcionalmente retilíneo para as pitorescas ruas romanas, cheias de agradáveis surpresas em sua heterogeneidade.

A Via del Corso era então conhecida como Via Lata, ou rua longa, e teria sido percorrida por São Pedro quando decidiu abandonar Roma até se encontrar com Jesus Cristo bem mais longe, na igreja atual do Quo Vadis: Aonde vais, Pedro?

São Pedro arrependeu-se e voltou a fazer apostolado na cidade pecadora que o crucificaria no alto do Vaticano, onde se encontra hoje a basílica famosa construída sobre seu túmulo.

Na atual Via del Corso há muitas igrejas e capelas, algumas delas conservando o nome antigo, como Santa Maria in Via Lata.



O crucifixo em questão foi entalhado segundo a escola de Siena e está recoberto de ouro sendo considerado o mais realista de Roma.

Até que na noite de 23 de maio de 1519 um feroz incêndio devorou a igreja toda.

No dia seguinte os consternados romanos foram avaliar as destruições: da igreja de San Marcelo só restara um monte de cinzas e ruínas.

Com uma exceção: o Santíssimo Crucifixo, que desde então ficou conhecido como do Milagre. Ele estava intacto, e a lampadinha votiva que lhe era dedicada ardia a seus pés apesar de retorcida pelo calor do incêndio.

O fato sobrenatural, humanamente inexplicável, inspirou a criação de uma arquiconfraria – a Confraternità del Santissimo Crocifisso –, a qual existe até hoje e que tomou a peito a reconstrução da igreja.

Procissão anual do Crucifixo Milagroso pelo centro de Roma em 1931. O Papa Francisco levou-o à Praça de São Pedro, mas o povo e o clero não podiam comparecer, gerando uma impressão de apocalíptica falta de fé
Procissão anual do Crucifixo Milagroso pelo centro de Roma em 1931.
O Papa Francisco levou-o à Praça de São Pedro, mas o povo e o clero
não podiam comparecer, gerando uma impressão de apocalíptica falta de fé
Mas não passou muito tempo para que em 1522 irrompesse uma peste muito mais mortífera que o atual coronavírus, que progrediu de modo tão violento que passou para a História como a “Grande Peste”.

Essa fez jus ao seu horrível nome: desolou Roma durante seis meses ininterruptos, despovoando-a em virtude do enorme e crescente número de mortes.

Baldados os métodos conhecidos e não recebendo eco do Céu os apelos às numerosas imagens tradicionais às quais se recorria por ocasião das pestes, pensou-se então abandonar a cidade.

As autoridades julgaram oportuno vetar a afluência de devotos ao Crucifixo Milagroso, achando – como acontece hoje – que as reuniões de pessoas em locais sagrados servissem de ocasião para a multiplicação dos contágios.

Mas o desespero do povo passou por cima da interdição. A multidão invadiu do pátio do convento dos Servitas de Maria, para onde havia sido levado o Crucifixo Milagroso a fim de afastá-lo da excessiva multidão.

Os Servitas de Maria decidiram então fazer uma procissão penitencial com o Crucifixo até a basílica de São Pedro, que no mero cálculo do autor destas linhas deve se encontrar em torno de dois a três quilômetros de distância.

As crônicas do tempo registraram um fato providencial: a procissão acabou durando 16 dias, de 4 a 20 de agosto daquele mesmo ano de 1522.

Por que tanto?

Porque à medida que o Cristo avançava, os doentes iam sendo curados e a peste retrocedia ostensivamente.

E a evidência era tão grande que as pessoas convergiam de todos os cantos, enquanto os moradores dos bairros por onde o Cristo passava faziam questão de que Ele entrasse por esta ou aquela viela – que em Roma são inúmeras – onde havia doentes.

Oratório do Santíssimo Crucifixo Milagroso
Oratório do Santíssimo Crucifixo Milagroso
Até que, por fim, o Santíssimo Crucifixo conseguiu voltar para a sua igreja de São Marcelo.

No momento de seu reingresso constatou-se que a mortífera epidemia havia cessado por completo e que, mais uma vez, Roma podia ser considerada salva.

Que lição para os nossos dias!

Se há um castigo pior do que o coronavírus esse só pode ser a falta de fé dos clérigos e dos fiéis!

Esse mesmo Crucifixo Milagroso foi levado à desoladora bênção dada pelo Papa Francisco na Praça de São Pedro no dia 27 de março. O Papa não queria a presença do povo talvez por razões sanitárias.

Mas o povo romano, apesar de muito expansivo, não invadiu a Praça como fizeram seus antepassados em 1522 no convento dos Servitas de Maria.

Tudo se passou como se não houvesse mais Igreja, termo que significa Assembleia, reunião daqueles que professam a fé de Jesus Cristo.

O mais assustador da pandemia não são suas consequências materiais sobre a saúde e a economia das nações, mas sobre o povo – com todas as suas categorias hierárquicas incluídas –, que está dando pouca importância a Deus.

Isso, sim, pode atrair desgraças incomensuráveis de toda espécie.

Fontes: Chiesa di San Marcello al Corso, http://www.confraroma.altervista.org/

http://romananglican.blogspot.com/2015/09/the-miracle-of-crucifix-of-san-marcello.html



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