Reinado de Cristo Rei na Terra prefigura o Reino dos Céus

Cristo Rei, vitral da igreja dos Santos Felipe e Tiago, Oxford
Fundo formação de estrelas na Nuvem de Magalhães,
foto Hubble Space Laboratory

Luis Dufaur

Escritor, jornalista,
conferencista de
política internacional,
sócio do IPCO,
webmaster de
diversos blogs

No último domingo de outubro a Igreja comemora a Cristo Rei (em 2021 é dia 28) e é muito proveitoso fazermos alguma reflexão a respeito.

Foi o Santo Padre Pio XI [então] gloriosamente reinante que instituiu essa solenidade a fim de reavivar entre os fiéis a lembrança da soberania de Jesus Cristo sobre as pessoas e os povos.

A verdade ensinada por Sua Santidade na Encíclica Quas Primas de 11 de Dezembro de 1925 não é mais do que a reprodução do que a Igreja sempre ensinou e praticou.

Pio XI veio reafirmar em pleno século XX a tradição observada sempre pela Igreja, já no tempo em que o Papa Leão III coroava Carlos Magno Imperador do Ocidente.

As realidades terrestres nos foram dadas para considerarmos as celestes.

E, para melhor conhecermos o Reinado de Cristo no Céu, devemos imaginá-lo como é na Terra. Assim consideraremos melhor o reinado glorioso e eterno de Nosso Senhor Jesus Cristo no Céu.

Também as coisas erradas foram permitidas por Deus para conhecermos as certas por oposição.

Olhando bem o contrário do Reinado de Nosso Senhor Jesus Cristo, teremos ideia do que é o verdadeiro reinado Cristo na Terra e, em consequência, do glorioso reinado de Nosso Senhor Jesus Cristo no Céu.

Continuamente, estamos roçando em toda a espécie de desordens, de inversão de valores, de ignomínias e de imoralidades que constituem este mundo já quase completamente dominado pelo igualitarismo e pela sensualidade de nossos dias.

Mas não temos – sequer de longe – a noção do que é o contrário do Reinado de Nosso Senhor Jesus Cristo, ou seja, o mundo comunista. Qual é a tristeza, a opressão, o materialismo, a imoralidade, o terra-terra, a trivialidade do mundo comunista...

Um padre jesuíta armênio que esteve muito tempo preso nas cadeias comunistas, contou que depois de dez anos de prisão, resolveram libertá-lo.

Ele e mais uns tantos prisioneiros foram sob escolta de trem de Moscou a Viena, passando por Budapeste.

Em todo o trajeto deviam viajar com as cortinas abaixadas, o que indica algo do soturno domínio comunista.

Em Budapeste desceram, comeram alguma coisa, voltaram para o trem e continuaram.

Oposto do reinado de Cristo:
turistas pagam ainda hoje para pernoitar
numa antiga casa de reclusão soviética em Karosta, Letônia.

Ele contou que, com as cortinas baixas, sentiram com toda segurança quando tinham atravessado a fronteira.

Com efeito, o trem parou numa estaçãozinha e começaram a ouvir risos que lhes fizeram entender que tinham entrado no mundo ocidental.

Porque em todo o trajeto não viram nem ouviram nenhuma manifestação de alegria, de satisfação, de contentamento, nem nada!

Era aquela severidade soturna, carrancuda, mal intencionada, uma atmosfera de campo de concentração, de tirania, a inversão de valores que caracteriza o império do comunismo.

Uma paulista que viajou para a Rússia contou que quando ela tomou, em Munique, um avião checoslovaco logo ao subir percebeu que já estava no mundo comunista: o forro do avião era ordinário, o estofo também, o serviço era péssimo, todo mundo carrancudo, aborrecido. Ela se sentia arrancada e posta viva dentro de um campo de concentração!

Estes são os horrores nos quais estamos entrando...

Bem-aventurados no Céu. Fra Angelico (1395 – 1455), detalhe

O extremo oposto do reino de Nosso Senhor Jesus Cristo seria uma cidade completamente futurista, com tudo organizado segundo os métodos mais tirânicos da “arte” e da técnica moderna.

Uma cidade sem alegria, com materialismo, imoralidade e amor livre completos, nenhuma esperança do Céu, nenhum apreço pelos valores do espírito, nenhuma compostura nem dignidade nem nas próprias autoridades.

Estamos numa situação intermediária em que os últimos restos do reinado de Cristo Rei estão desaparecendo e as afirmações claras e escancaradas do reinado do demônio já estão emergindo.

Enquanto uma desaparece, uma outra coisa aparece...

Se o reino do demônio é assim horrível, compreendemos qual poderá ser a alegria que se terá no momento bendito em se tornar realidade o triunfo profetizado por Nossa Senhora em Fátima.

Quando o Reino de Nossa Senhora começa e tudo muda completamente de aspecto.

A virtude será glorificada, a ortodoxia será respeitada por todo o mundo.

Todas as leis, instituições, costumes refletirão o espírito da Igreja Católica; e todo o modo de refletir será de acordo com a doutrina e o espírito da Igreja Católica.

Tudo o que se admirar será o bem e a verdade; tudo o que se execrar será o erro e o mal. Todos os homens, todos os valores, todas as coisas estarão postas na sua devida ordem, dando glória a Deus, Autor desta mesma ordem!

Cristo Rei, catedral de Southwark, Ingaterra

No fim de nossos dias, teremos a alegria de havermos nascidos no reino do demônio, mas de termos trabalhando pelo advento do Reino de Cristo, considerando a ordem restaurada e podendo dizer que foi uma obra de Deus em que colaboraram nossas mãos.

Então, quando cerrarmos nossos olhos poderemos ter uma ideia exata do Reino de Cristo no Céu.

A primeira aurora será quando entremos no Reino de Cristo, “ad Jesum per Maria”.

A segunda aurora será quando fechemos os olhos e para nossa alma se abrir o reinado de Cristo através de Nossa Senhora, no Céu.

Então, tudo o que era símbolo e aparência, terá passado. Veremos a Deus, a Nossa Senhora e as almas bem-aventuradas face a face.

Compreenderemos de um modo indireto e superlativo toda a ordem do Céu, cujo modelo amamos na Terra.

Dias maus e péssimos virão e cada vez mais esta esperança da ordem celeste nos dará alento.

Cada vez mais devemos viver da grande esperança que é a instauração do Reino de Cristo pelo Reino de Maria aqui na Terra.

Por esta forma, atingiremos o Reino de Cristo reinando por Maria Santíssima, no Céu.

Esta é uma consideração apropriada para a festa de Cristo Rei.

(Fonte: Plinio Corrêa de Oliveira, condensação de uma palestra de 24 de outubro de 1964, sem revisão do Autor. Apud PlinioCorreadeOliveira.info).

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