domingo, 26 de maio de 2024

Santa Clotilde Rainha e o milagre da conversão da França

Santa Clotilde, igreja de Saint-Germain l'Auxerrois, Paris
Santa Clotilde, igreja de Saint-Germain l'Auxerrois, Paris
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de
política internacional,
sócio do IPCO,
webmaster de
diversos blogs







Gundioch, rei da Borgonha, morrera numa batalha contra os bárbaros, em defesa da Fé e de seus Estados. Seus quatro filhos, desejando governar, dividiram o pequeno reino.

A mais velha das irmãs, Fredegária, tomou o véu religioso num mosteiro, onde terminou seus dias em odor de santidade.

Clotilde, a mais nova, por “sua doçura, piedade e amor pelos pobres, fazia-se bendizer por todos aqueles que viviam a seu redor”.

“Essa jovem princesa demonstrou uma constância admirável em meio a seus infortúnios, e começou a brilhar, como um milagre de honra e de virtude, pela santidade de suas ações....

“Seu porte era belo, suas maneiras agradáveis, seu rosto bem feito e de uma beleza tão regular, que não se podia ver nada de mais bem acabado”.

A fama de tal virtude e beleza chegou ao vizinho reino dos Francos (depois França), onde seu jovem e fogoso rei, Clóvis pensou em desposar a virtuosa princesa, apesar de ser ela católica.

Certamente influiu nessa decisão o Bispo São Remígio, no qual o rei franco depositava inteira confiança.

As bodas realizaram-se no ano de 493 em Soissons, com toda a suntuosidade da época.

“No palácio do rei franco instalou-se um oratório católico, onde diariamente se ofereciam os Sagrados Mistérios, aos quais a Santa assistia com singular devoção” (1).

Um ano após o casamento, Clotilde deu à luz um herdeiro, e obteve de Clóvis licença para batizá-lo.

Poucos dias depois, o pequeno inocente foi para o Céu. O rei, irado, alegou que se ele tivesse sido consagrado aos seus deuses, não teria morrido.

A rainha protestou com firmeza dizendo que se alegrava pelo fato de Deus os ter julgado dignos de que um fruto de seu matrimônio entrasse no Céu.

E que, em vez de entristecer-se, eles deveriam rejubilar-se. Isso aplacou o rei.

Santa Clotilde, jardim do Luxemburgo, Paris
Santa Clotilde, jardim do Luxemburgo, Paris
No ano seguinte, Clotilde deu à luz outro menino que, apenas batizado, correu perigo de vida.

A rainha lançou-se aos pés do altar e, por suas súplicas e lágrimas -- que visavam mais a conversão do marido do que evitar essa segunda morte -- obteve de Deus que ele se restabelecesse.

As qualidades da esposa começaram a impressionar vivamente a Clovis.

Mas ele tinha um temperamento modelado pela barbárie, e portanto refratário à Religião católica.

Para obter a conversão do marido e do reino, a piedosa rainha entregava-se em segredo a grandes austeridades, prolongadas orações, e especial caridade para com os pobres.

Ao mesmo tempo, “honrava seu real esposo, e procurava suavizar seu temperamento belicoso com sua mansidão cristã” (2).
“Enquanto não adorares o verdadeiro Deus - dizia-lhe ela - temerei que voltes das batalhas vencido e humilhado.

“Até agora não enfrentaste inimigos dignos de teu valor. Se, por desgraça, fores cercado e acossado por um exército mais numeroso, em vão pedirás a ajuda de teus falsos deuses”. (3);

Clóvis contentava-se em desviar a conversa para não magoar a esposa com blasfêmias.

Clotilde tornou-se amiga de Santa Genoveva, que então resplandecia em Paris por suas virtudes e milagres. A ela e a São Remígio recomendou também a conversão do marido.

O milagre da batalha de Tolbiac.
O milagre da batalha de Tolbiac. (Paul-Joseph Blanc, 1846 - 1904)
Chegou finalmente a batalha de Tolbiac, a hora da Providência.

O invicto Clovis encontrou-se face aos poderosos alamanos. De repente vê seu exército recuar em tal pânico que, na fuga, uns guerreiros atropelam os outros.

Desesperado, o monarca pagão começa a clamar aos seus deuses, pedindo-lhes ajuda. Em vão.

Lembra-se então de Clotilde. Caindo de joelhos, eleva seus olhos ao Céu, e brada com toda a alma:

“Ó Jesus Cristo, Deus de Clotilde. Se me concederdes vencer esses inimigos, eu crerei em Vós e serei batizado em vosso nome”.

A batalha virou miraculosamente de lado e Clóvis venceu.

Essa conversão foi pronta e sincera. Não querendo esperar chegar a Soissons para instruir-se “na fé de Clotilde”, mandou chamar um virtuoso eremita, São Vedasto, para que marchasse a seu lado, instruindo-o na Fé católica.

Quis Deus que o rei bárbaro comprovasse mais uma vez, com os próprios olhos, a santidade da Religião que lhe estava sendo pregada.

Ao passarem pela vila de Vouziers, um cego aproximou-se para pedir esmola, e só ao tocar a túnica de São Vedasto, adquiriu imediatamente a visão.

São Remígio batiza Clóvis. Esmalte do túmulo de S.Remígio. Basílica de St Rémi, Reims, França
São Remígio batiza Clóvis. Esmalte do túmulo de S.Remígio.
Basílica de St Rémi, Reims, França
À rainha – que o esperava ansiosamente pois Clóvis já mandara notícia de sua conversão – disse ele: “O Deus de Clotilde deu-me a vitória. De hoje em diante será meu único Deus!”

No dia de Natal do ano 496, Clóvis, com três mil de seus mais valentes guerreiros, ingressaram pelo batismo na milícia do Deus de Clotilde.

Ao entrar o rei dos francos com o Bispo de Reims no batistério, disse-lhe este as palavras que se tornaram famosas: “Curva a cabeça, altivo Sicambro; adora o que queimaste e queima o que adoraste”.

No momento em que São Remígio ia proceder à unção do rei com o óleo do Santo Crisma, baixou da abóbada do templo uma pomba trazendo no bico uma ampola com azeite.

O Bispo, vendo naquilo uma ordem celeste, ungiu com ele a cabeça de Clóvis (5).

Com esse azeite seriam ungidos depois praticamente todos os reis franceses, até ser quebrada a ampola durante a nefanda Revolução Francesa.

“Em poucos dias, todo o reino dos francos entrava na Igreja, pondo à cabeça de seu Código nacional aquele grito entusiasta que é uma confissão de fé: ‘Viva Cristo, que ama os francos!’” (5).

Assim nasceu a França "Filha primogênita da Igreja".


NOTAS

1 - Edelvives, El Santo de Cada Día, Editorial Luis Vives, S.A., Saragoça, 1947, tomo III, p. 345.

2 - Pe. Jean Croiset, Año Cristiano, Saturnino Calleja, Madri, 1901, t.II, p. 751.

3 - Cfr. Edelvives, op. cit., tomo III, p. 348.

4 - Cfr. Bollandistes, op. cit, tomo VI, pp. 421, 422; Edelvives, op. cit, tomo III, p. 349).

5 - Fr. Justo Pérez de Urbel, OSB, Año Cristiano, Ediciones Fax, Madrid, 1945, tomo II, p. 525.


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domingo, 12 de maio de 2024

O Ângelus, devoção da Cavalaria, para honrar a Encarnação do Salvador

Anunciação. Iluminura na Universidade de Califórnia-Berkeley,  UCB 138
Anunciação. Iluminura na Universidade de Califórnia-Berkeley,
UCB 138
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de
política internacional,
sócio do IPCO,
webmaster de
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O Ângelus (Anjo do Senhor) reza-se às 06:00, 12:00 e/ou 18:00 horas. Com ele os católicos glorificam, através de orações especiais, a Anunciação, feita pelo anjo Gabriel a Nossa Senhora, da Encarnação de Jesus Cristo.

Cumpriu-se então, o anúncio dos profetas de que uma Virgem conceberia e daria à luz o Salvador tão esperado.

É uma das grandes datas da História e do calendário litúrgico, pois marca o início da Redenção.

A festa da Encarnação é celebrada o dia 25 de Março, nove meses antes do Natal.

Em algumas localidades, os sinos das igrejas tocam de maneira especial.

O nome da oração Ângelus deriva da primeira invocação em latim: Angelus Domini nuntiavit Mariæ (O anjo do Senhor anunciou a Maria).

As oração consiste em três invocações, com uma resposta cada uma. As três descrevem o mistério da Encarnação. Elas são acompanhadas por uma jaculatória, uma breve oração e três Glórias.

Anunciação. Tomasso di Masolino (1383 – 1447).  National Gallery of Art, Londres.
Anunciação. Tomasso di Masolino (1383 – 1447).
National Gallery of Art, Londres.
Como rezar o Ângelus:
1) O Anjo do Senhor anunciou a Maria
Respondem todos: E Ela concebeu pelo poder do Espírito Santo.
Ave Maria...

2) Eis aqui a serva do Senhor.
Respondem todos: Faça-se em Mim segundo a vossa palavra.
Ave Maria...

3) E o Verbo Divino se fez homem,
Respondem todos: e habitou entre nós.
Ave Maria...

4) Rogai por nós, Santa Mãe de Deus,
Respondem todos: para que sejamos dignos das promessas de Cristo.

Oremos: Derramai ó Deus, a Vossa graça em nossos corações, para que, conhecendo pela mensagem do anjo a encarnação do Vosso filho, cheguemos por Sua Paixão e Cruz à glória da ressurreição. Por Cristo, Senhor nosso. Amém.

Glória ao Pai... (repete-se 3 vezes)

Anunciação. Paolo Veneziano (1333 - 1358). J. Paul Getty Museum, Los Angeles, EUA.
Anunciação. Paolo Veneziano (1333 - 1358).
J. Paul Getty Museum, Los Angeles, EUA.
A oração Ângelus é atribuída ao Bem-aventurado Urbano II, o Papa que convocou a primeira Cruzada.

O costume de rezá-la em três momentos do dia é atribuída ao rei Luis XI da França. Ele, em 1472, ordenou que fosse recitada três vezes por dia.

Trata-se de uma das grandes devoções medievais, de grande doçura e unção, que se espalharam pela Igreja toda para maior glória de Nossa Senhora, até o dia de hoje.

Ela reafirma também a unicidade da Igreja Católica: a única verdadeira fundada por Deus encarnado em Maria.

O grande apóstolo da devoção a Nossa Senhora, São Luís Maria Grignion de Montfort, conta que o Ângelus era uma devoção habitual da Cavalaria.

Anunciação, iluminura medieval
Anunciação, Columbia University,
Burke Library at Union Theological Seminary, UTS MS 051
O original em latim é assim:
V/. Ángelus Dómini nuntiávit Mariæ,
R/. Et concépit de Spiritu Sancto.
Ave Maria, gratia plena, Dóminus técum. Benedicta tu in muliéribus, et benedictus fructus ventris tui, Jesus.
Sancta Maria, Mater Dei, ora pro nobis peccatóribus, nunc et in hora mortis nóstræ. Amen.

V/. Écce Ancílla Dómini.
R/. Fiat míhi secúndum Verbum túum.
Ave Maria, gratia plena...

V/. Et Verbum caro factum est.
R/. Et habitávit in nobis.
Ave Maria, gratia plena...

V/. Ora pro nobis, Sancta Déi Gènetrix.
R/. Ut digni efficiámur promissiónibus Christi.

Orémus: Gratiam tuam quæsumus, Dómine, méntibus nostris infúnde; ut qui, angelo nuntiánte, Christi Fílii tui Incarnatiónem cognóvimus, per passiónem éius et crucem, ad resurrectiónis gloriam perducámur. Per eúndem Christum Dóminum nostrum. Amen.

Gloria Patri... três vezes.


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