No século XIII nasceu um Movimento Eucarístico que deu origem à Exposição e Bênção do Santíssimo Sacramento |
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de política internacional, sócio do IPCO, webmaster de diversos blogs |
Rei e Senhor do Universo, merece Jesus Cristo Nosso Senhor, real e verdadeiramente presente na Sagrada Eucaristia, que se Lhe prestem honras públicas, devidas a seus direitos sobre toda a criação.
Entre elas, a piedade católica, sancionada posteriormente por decretos pontifícios, excogitou a Adoração das 40 Horas, em que durante três dias o Santíssimo Sacramento é solenemente exposto, noite e dia, à pública adoração.
Neste período, nenhum leigo deve entrar a rezar no presbitério.
Os Romanos Pontífices concederam inúmeras indulgências aos que publicamente façam atos de veneração ao divino Juiz e Rei Soberano, entre elas a de poder ganhar, em cada um dos três dias, uma indulgência plenária, fazendo uma visita a Sua Divina Majestade, tendo-se confessado e comungado, rezando diante do Santíssimo cinco Pater, Ave e Gloria, acrescentando mais um pelas intenções do Romano Pontífice.
Outrossim, tantas vezes quantas se faça tal visita, podem-se ganhar quinze anos de indulgência.
A seguir, um resumo da história desta devoção, das principais normas litúrgicas e de algumas normas práticas, adequadas às dificuldades das capelas pequenas, nas quais um só sacerdote estará presente.
História
Na Idade Média (pelo menos desde o século X), difundiu-se em muitos lugares a devoção ao Santo Sepulcro do Salvador.
Mantinha-se este erigido desde a Adoração da Cruz, na Sexta-Feira Santa, até a Missa de Ressurreição do Domingo de Páscoa.
O Concílio de Trento reforçou a devoção eucarística ao Corpo de Cristo, Corpus Christi |
Ao princípio, punha-se no sepulcro o símbolo de Jesus Cristo: a Cruz. No século XII, depositava-se nele o Crucifixo ou a imagem de Cristo.
Mais tarde, no século XIV, colocou-se em relicário, incrustado no flanco desta imagem, o mesmo Corpo sacramentado de Jesus (com o qual a função adquiria um caráter de viva realidade, que excitava extraordinariamente a devoção dos fiéis).
Por último, colocou-se no Sepulcro — digamos Tabernáculo — unicamente Jesus Sacramentado.
Entretanto, esta devoção não seguiu em todas as partes o mesmo processo.
Já no século X o santo Bispo Ulrico, de Augsburgo, depositava no Sepulcro somente o Santíssimo Sacramento.
E no século XII os habitantes de Zara, metrópole da Dalmácia, também velavam Jesus Sacramentado, encerrado no Sepulcro, desde o entardecer de Quinta-Feira Santa até o meio-dia do Sábado Santo, por antecipar-se para este dia a Missa de Ressurreição, como se faz hoje.
Bastava que esta função — chamada já no século XIII Oratio XL Horarum in Passione Domini — se transferisse para outros dias do ano, para que dela resultasse a atual função das 40 Horas. O traslado fez-se no século XVI.
Em 1527, Antonio Belloto fundou na Igreja do Santo Sepulcro de Milão uma confraria, cujo objetivo precípuo era orar durante quarenta horas diante do Santíssimo posto no sepulcro, nas quatro principais festividades do ano, em memória da morte e sepultura de Jesus, com o fim de impetrar remédio para as grandes calamidades que então afligiam a Cristandade.
Dois anos mais tarde, o Pe. Tomás Nietto, OP, começou a propagar em todas as igrejas paroquiais de Milão essa devoção, divulgada em seguida por Santo Antonio Maria Zaccaria, com fruto ainda mais abundante, tanto em Milão como em Vicenza, pelos anos 1530 a 1534; com a particularidade de que este principiou a celebrar as 40 Horas com o Santíssimo Sacramento visivelmente exposto, como se fazia desde o século XIV em muitos lugares, em outras funções de Exposição.
Vale esclarecer que, quando foi introduzida a procissão de Corpus Christi, na segunda metade do século XIII, o Santíssimo era levado num vaso ou cálice cerrado e coberto por um véu.
As custódias ou monstratoria, que através de um cristal deixavam ver o Santíssimo Sacramento, parece que começaram a ser usadas no século XIV, e somente em alguns lugares.
Nos tempos de São Carlos Borromeo (1538-1584), observava-se em Milão um vestígio dessa disciplina antiga, pois, se bem que exposto o Santíssimo dentro de um vaso cilíndrico de cristal rematado em pirâmide, através do qual se podia ver a Sagrada Hóstia, tal vaso se cobria com um largo véu, por reverência à Sua Divina Majestade.
A Exposição do Santíssimo — visível ou velado no cálice — para sua adoração pelos fiéis é uma das principais manifestações do desenvolvimento do culto direto a Jesus na Sagrada Eucaristia, que teve lugar sobretudo a partir do século XIII, influindo não pouco sobre essa iniciativa o combate às heresias contra a presença real de Jesus Cristo no Sacramento, que apareceram a partir do século XI até o século XVI.
Tais heresias, avivando a crença do povo cristão na divina Eucaristia, fizeram sentir a necessidade de render a Nosso Senhor a homenagem que reclamam Sua divindade e Sua bondade no Santíssimo Sacramento.
Claro que contribuíram para estender mais e mais as Exposições, públicas ou privadas, a Festa de Corpus Christi e o exercício das 40 Horas.
Estas manifestações foram o termo feliz da evolução da devoção ao Santo Sepulcro de Nosso Senhor Jesus Cristo. Deus reservava aos tempos modernos esse foco de piedade da Exposição da Sagrada Eucaristia, que sua Providência nos depara com a habitual suavidade de seus traços divinos.
Por fim, o famoso pregador Pe. José de Fermo promoveu, nos anos 1537 e 1538, a instituição da Adoração Perpétua nas igrejas de Milão, pela qual nestas se sucedia, sem interrupção, a celebração das 40 Horas.
Santo Inácio de Loyola, com os seus, levou esta devoção a Roma. Foram também os jesuítas que a introduziram na Alemanha.
Paulo V a aprovou por primeira vez em 1539, e Clemente XI ordenou definitivamente seu rito, estabelecendo-a em Roma, em turno de Adoração Perpétua, mediante a famosa Instrução Clementina, publicada em 1705.
Da capital do orbe católico, estenderam-se as 40 Horas por todo o mundo.
(Fonte: Pe. José Vendrell, Pe. Antonino Tenas, Pe. Pedro Farnés, Pe. Joaquín Solans, "Manual Litúrgico" - Subirana, Barcelona, 1955, 2º vol., pp. 351-352, 189-390)
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