A catedral de Bayeux, Normandia, na bruma |
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de política internacional, sócio do IPCO, webmaster de diversos blogs |
Havia nos confins da Normandia um destemido cavaleiro, cujo nome causava terror na região. De seu castelo fortificado junto ao mar, não receava nem mesmo o rei.
De grande estatura e belo porte, era no entanto vaidoso, desleal e cruel, não temendo a Deus nem aos homens.
Não fazia jejum nem abstinência, não assistia à Missa nem ouvia sermões. Não se conhecia homem tão mau.
Numa Sexta-feira Santa, bradou ele aos cozinheiros:
— Aprontai-me para o almoço a peça que cacei ontem.
Ouvindo isto, seus vassalos exclamaram:
— Senhor, hoje é Sexta-feira Santa. Todos jejuam, e vós quereis comer carne? Crede-nos: Deus acabará por vos punir.
— Até que tal aconteça, terei enforcado e roubado muita gente.
— Estais seguro de que Deus tolerará mais isso? Vós devíeis arrepender-vos sem demora. Em um bosque vizinho há um padre eremita, varão de grande santidade. Vamos até lá e confessemo-nos — insistiram os vassalos.
— Confessar-me? Aos diabos! — respondeu com desprezo o senhor.
— Vinde ao menos fazer-nos companhia.
— Para me divertir, concedo. Por Deus, nada farei.