Nossa Senhora na abadia de St-Denis, Paris. Provém da arrasada abadia de Cluny. |
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de política internacional, sócio do IPCO, webmaster de diversos blogs |
A devoção à Virgem predispõe os medievais ainda um tanto rudes à delicadeza, à piedade, à proteção dos fracos, ao respeito das mulheres.
Traz em si uma virtude de civilização e de cortesia.
Os testemunhos disso são infinitos e encantadores.
Nossa Senhora de Kleinheubach |
E que milagres primorosos, dignos da Légende Dorée!
Lá, um monge ignorante que sabe recitar apenas duas palavras — AVE MARIA —, e que por sua ignorância é desprezado.
Ele morre, e de sua boca saem cinco rosas em honra às cinco letras do nome MARIA.
Uma freira, tendo abandonado o convento para se entregar ao pecado, volta após longos anos e encontra a Virgem — a quem ela nunca cessara, até nos piores pecados, de dirigir cada dia uma oração — ocupando durante todo esse tempo o seu lugar no ofício, de forma que ninguém percebeu sua ausência.
Um cavaleiro, em troca da fortuna, prometera ao demônio entregar-lhe sua mulher.
Enquanto ele a conduzia, ela entrou por um momento numa capela da Virgem, e é então a Virgem que saiu da capela em seu lugar e puniu o demônio.
Um outro cavaleiro, indo ao torneio, esqueceu-se do tempo e ficou rezando a Nossa Senhora numa Igreja.
Nossa Senhora, enquanto isso, combatia em seu lugar sob sua armadura, e ganhava para ele o prêmio do torneio.
Vale lembrar o famoso jogral de Nossa Senhora, de quem Ela enxugava o suor: o conto e o teatro se apoderaram desta história.
Essa devoção à Virgem contribuiu sem dúvida para a formação do senso de honra, purificando e enobrecendo a rudeza desses cavaleiros, desses soldados, dessa gente de guerra ou do campo. Foram levados a tratar a mulher com mais respeito.
A honra que daí decorre é uma espécie de galanteria da alma, que nos leva à defesa dos fracos, ao esquecimento de nossos interesses, à generosidade, ao respeito à palavra dada, quaisquer que sejam as consequências.
Fonte: Henry Bordeaux, "Vie, mort et survie de Saint Louis, roi de France", Librairie Plon, Paris, pp. 34-35.
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