domingo, 4 de novembro de 2018

A devoção a Nossa Senhora e o senso da honra

Nossa Senhora na abadia de St-Denis, Paris. Provém da arrasada abadia de Cluny.
Nossa Senhora na abadia de St-Denis, Paris. Provém da arrasada abadia de Cluny.
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de
política internacional,
sócio do IPCO,
webmaster de
diversos blogs








A devoção à Virgem predispõe os medievais ainda um tanto rudes à delicadeza, à piedade, à proteção dos fracos, ao respeito das mulheres.

Traz em si uma virtude de civilização e de cortesia.

Os testemunhos disso são infinitos e encantadores.



Nossa Senhora de Kleinheubach
Imagine-se que no século XII um monge de Saint-Médard, Gautier de Coinci, relatou em trinta mil versos os milagres de Nossa Senhora.

E que milagres primorosos, dignos da Légende Dorée!

Lá, um monge ignorante que sabe recitar apenas duas palavras — AVE MARIA —, e que por sua ignorância é desprezado.

Ele morre, e de sua boca saem cinco rosas em honra às cinco letras do nome MARIA.

Uma freira, tendo abandonado o convento para se entregar ao pecado, volta após longos anos e encontra a Virgem — a quem ela nunca cessara, até nos piores pecados, de dirigir cada dia uma oração — ocupando durante todo esse tempo o seu lugar no ofício, de forma que ninguém percebeu sua ausência.

Um cavaleiro, em troca da fortuna, prometera ao demônio entregar-lhe sua mulher.

Enquanto ele a conduzia, ela entrou por um momento numa capela da Virgem, e é então a Virgem que saiu da capela em seu lugar e puniu o demônio.

Um outro cavaleiro, indo ao torneio, esqueceu-se do tempo e ficou rezando a Nossa Senhora numa Igreja.

Nossa Senhora, enquanto isso, combatia em seu lugar sob sua armadura, e ganhava para ele o prêmio do torneio.

Vale lembrar o famoso jogral de Nossa Senhora, de quem Ela enxugava o suor: o conto e o teatro se apoderaram desta história.

Essa devoção à Virgem contribuiu sem dúvida para a formação do senso de honra, purificando e enobrecendo a rudeza desses cavaleiros, desses soldados, dessa gente de guerra ou do campo. Foram levados a tratar a mulher com mais respeito.

A honra que daí decorre é uma espécie de galanteria da alma, que nos leva à defesa dos fracos, ao esquecimento de nossos interesses, à generosidade, ao respeito à palavra dada, quaisquer que sejam as consequências.





Fonte: Henry Bordeaux, "Vie, mort et survie de Saint Louis, roi de France", Librairie Plon, Paris, pp. 34-35.


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