São Nicolau de Flue, o guerreiro perfeito, místico e camponês |
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de política internacional, sócio do IPCO, webmaster de diversos blogs |
No livro do Pe. Charles Profillet “Les Saints Militaires” (Nabu Press, 2012), lemos a respeito do santo patrono da Suíça.
“Nicolau de Flue nasceu no dia 25 de março de 1417, falecendo no mesmo dia no ano de 1487.
“Era natural do cantão de Untervalden, na Suíça. Filho de modestos agricultores, demonstrou desde criança, aptidões invulgares de inteligência e piedade.
“Por isso seus pais procuraram dar-lhe uma educação um pouco melhor do que a que seria ministrada a um futuro lavrador.
“Nicolau sentia enorme inclinação para a vida contemplativa. Tinha visões que o convidavam a isso.
“Mortificava-se tão violentamente que sua mãe temeu por sua saúde e procurou orientá-lo nesse sentido.
“Mesmo com tal vocação, Nicolau casou-se, tendo numerosa prole e atingindo seus descendentes as mais altas dignidades do país.
“Casado, continuou com seu gênero de vida; levantava-se cada noite para rezar e todos os dias recitava o Saltério em honra de Nossa Senhora.
“Aos 23 anos foi ele chamado a lutar contra o cantão de Zurique, que se rebelara contra a confederação Helvética”.
São Nicolau de Flue, o guerreiro patrono da Suíça |
Tinham uma vaga confederação e viviam numa certa luta porque cada grupo de cantões – de língua francesa, alemã, italiana e romanche – era trabalhado pelo vizinho que lhe era afim linguisticamente.
Esse foi o século militar da Suíça e os suíços forneciam tropas mercenárias para a Europa inteira. A Guarda Suíça, que ainda serve os papas, é uma reminiscência dessa tradição.
“Quatorze anos mais tarde, ainda nessa luta, comandou como capitão, uma companhia de cem homens.
“Nicolau, na guerra, lutava sempre tendo numa das mãos a espada e, na outra, seu rosário. Soldado de bravura invulgar, foi agraciado com a mais alta condecoração de sua terra”.
Que linda cena esse homem valoroso entrar no campo de batalha tendo em uma das mãos a espada, e com a outra segurando naturalmente o escudo e o rosário.
O ambiente que cerca os objetos de piedade, foi mudando, ao longo dos séculos, por causa de uma mal compreendida devoção.
Quem, vendo hoje um rosário, dirá: “Esse objeto me lembra um guerreiro”? Pelo contrário, a maioria das pessoas dirá: “Esse objeto me lembra um homem incapaz de guerrear...”
A religião “água com açúcar” ou “heresia branca” foi apagando a ideia do católico guerreiro e o rosário parece o símbolo do homem incapaz de guerrear. O que é uma grave injustiça para com o rosário.
Oferecem-lhe um cargo público, mas ele declara: Não, eu sou de uma origem muito humilde, por isso não quero. Os senhores ouviram falar de um fato assim no século XX ou XXI?
Vê-se o contrário: rejeitar um indivíduo porque ele é de condição alta e preferir um de condição baixa. A escala de valores se inverteu completamente.
“Ao voltar para casa, quiseram fazê-lo prefeito, mas ele não aceitou por causa da humildade de sua origem.Isso precisa ser visto na atmosfera suíça: uma montanha com gado nas encostas, paisagem muito bonita, ele reunindo ao pôr do sol o gado com um chifre que serve de corneta, e depois rezando o Ângelus sozinho e guardando o gado no estábulo.
“Entretanto, exerceu com rara habilidade o cargo de juiz. Deixou-o após nove anos, para se dedicar exclusivamente ao cuidado de sua alma. Suas visões não o deixavam”.
Casa de São Nicolau, em Sachseln |
Que coisa linda, num tribunalzinho do lugar, as pessoas estão discutindo para o juiz Nicolau de Flue decidir uma causa.
Ele está sentado, de repente, o olhar dele se torna extático, se ilumina, vê uma cena celeste qualquer, todo mundo para, os ódios se desarmam; quando cessa a visão, as partes estão reconciliadas. O pleito está resolvido.
Quem sabe de alguém assim, me avise. Como tudo mudou…!
Aí está feita uma visão, num crepúsculo ou numa aurora feéricas da Suíça, em que a neve fica rosada, azul claro, em que no céu passam todas as cores, e no meio disso um Anjo numa inocência daquela natureza…. Isso é uma coisa absolutamente superior!
“Guardando o rebanho viu, certa ocasião, um lírio maravilhoso que saía de sua própria boca e elevava-se até às nuvens, mas caía sobre a terra e era devorado por um cavalo.É uma coisa maravilhosa! Um lírio brilhante! Depois, cai de novo e um cavalo o come.
“Compreendeu, então, que a contemplação das coisas celestes em sua vida, era frequentemente absorvida pelos cuidados materiais”.
Ele se elevava, às vezes, a considerações muito altas. Se acontece a alguém ter algum pensamento muito elevado e depois se voltar para as coisas da terra seja devoto de São Nicolau de Flue, que tinha o mesmo problema.
Peçamos a graça de não vulgarizar, na vida de todos os dias, os favores celestes. Os santos tiveram as mesmas dificuldades que nós temos, e Nossa Senhora os socorreu maravilhosamente porque eram pessoas de oração e de amor de Deus.
Certamente a mulher concordou, senão não seria santo.Quem, vendo hoje um rosário, dirá: “Esse objeto me lembra um guerreiro”? Pelo contrário, a maioria das pessoas dirá: “Esse objeto me lembra um homem incapaz“Abandonou, então, mulher e filhos e fez-se eremita.
São Nicolau de Flue parte para a guerra e se despede de sua esposa e 10 filhos
“Tornou-se um extraordinário extático”.
“Extático” é aquele que tem êxtases, ou que fica parado olhando a visão.
“Por anos, alimentou-se somente da Santa Eucaristia, recebida uma vez por mês”.Aqueles cantões tinham rixas e até guerras. No mais das vezes, uma das partes não tinha razão ou as duas partes estavam de má fé e para evitar o derramamento de sangue, iam procurar o santo.
“Amado e venerado por seus concidadãos, que muitas vezes o chamaram para apaziguar rixas entre os cantões, ele sempre obteve êxito nessas missões”.
E São Nicolau de Flue nunca foi malsucedido na sua missão.
Qual foi a missão em que a ONU foi bem-sucedida? Também, com que confiança se procura um santo, e com que mil reservas se procura a ONU? Do que adianta um aparato jurídico, quando falta a santidade?...
“Pouco antes de morrer, Nicolau foi atingido por dores violentas. Ah, como a morte é terrível, dizia ele. Mas exalou o último suspiro com grande calma”.
Há uma concepção “água com açúcar” ou “heresia branca”, segundo a qual o santo nunca tem medo de morrer.
Não é verdade. Há muitos santos que morreram no terror da morte, mas Deus os sustentou, e no fim, tiveram uma morte calma.
Ele teve dores violentíssimas e dizia: “como a morte é terrível”. Mas depois entregou a alma a Deus na tranquilidade.
“Seus restos mortais foram depositados na igreja de Sachseln, aldeia natal do bem-aventurado.
“Quem a visita hoje vê, sob o altar, o esqueleto do Irmão Klaus como ele é chamado pelos fiéis, ornado de ouro e diamantes, trazendo ao pescoço condecorações de numerosas ordens militares que foram conquistadas pelos seus descendentes ao servirem outros países”.
Sachseln, onde repousam os restos de São Nicolau |
Seus descendentes, ao conquistarem insígnias condecoravam o cadáver dele com elas.
Em vida teve uma lutazinha entre cantões, agora está constelado de Ordens militares. Que respeito à tradição e que amor ao passado isso significa!
Os que negam a hereditariedade levam um verdadeiro soco. O herói que tira a condecoração de seu peito para honrar o santo seu antepassado!
Porque é mais bonito ser descendente de São Nicolau do que estar coberto de todas as honras da terra. Isso é um gesto rico de significados.
A Europa está repleta de coisas dessas densas de ensinamentos. Europa sagrada!...
Aqui no Brasil Santo Antônio de Pádua e de Lisboa é coronel do exército brasileiro.
Assim deve ser um homem! Como é diferente de certas imagens nas igrejas que se pudessem falar pronunciariam um som roufenho qualquer, como caricatura de sacristão.ORAÇÃO DE SÃO NICOLAU DE FLUE
Meu Senhor e meu Deus,
arrancai de mim mesmo
tudo o que me impede de ir a Vos.
Meu Senhor e meu Deus,
dai-me tudo aquilo
que me conduz a Vos.
Meu Senhor e meu Deus,
tirai-me de mim mesmo
e entregai-me todo a Vos.
São Nicolau de Flue (1417-1487), padroeiro nacional da Suíça festa: 25 de Setembro.
“Um contemporâneo descreveu o Beato Nicolau como um homem de estatura elevada; sua cela tinha seis pés de altura (1,82m), o que era o limite extremo para ele se manter de pé.
“Magro, a ponto de parecer feito somente de pele e ossos, sua pele era bronzeada. À medida que foi envelhecendo, o cabelo, no alto de sua cabeça, adquiriu um tom cinza escuro.
“Duas mechas de barba desciam de seu queixo. Tinha os olhos negros e serenos, o olhar enérgico e penetrante. O som de sua voz era másculo, digno e imponente.
“Seus pés tocavam a terra, mas seu espírito parecia pairar nas regiões celestes”.
Este é nosso preito de admiração a São Nicolau.
Que ele nos dê a coragem nos dias difíceis que esperam todo homem, de caminhar para o inimigo com uma arma na mão, um rosário na outra e tendo visões e revelações.
Isso é o guerreiro perfeito.
São Nicolau de Flue (1417-1487) é o padroeiro nacional da Suíça.
Nos últimos anos de vida seu único alimento foi a Sagrada Comunhão.
Ficou famoso em toda a Europa onde grassava incubada a revolta protestante contra a Presencia Real de Cristo na Ssma. Eucaristia.
Foi sepultado em Sachseln.
Em 1947 foi canonizado por Pio XII.
(Fonte: excertos com adaptações de palestra do Prof. Plinio Corrêa de Oliveira no dia 6 de abril de 1971. Sem revisão do autor)
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