domingo, 14 de junho de 2020

Santo Antônio, “Arca do Testamento”, “Martelo dos Hereges” e o milagre de tomada de Orã

Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de
política internacional,
sócio do IPCO,
webmaster de
diversos blogs







Santo Antônio de Pádua, ou de Lisboa, Confessor e Doutor da Igreja é chamado “Arca do Testamento” e “Martelo dos Hereges”, foi um frade franciscano do século XIII.

Estando em 1950 em Assis, eu tive ocasião de me documentar a respeito de como era Santo Antônio.

E ali se mostra, na Basílica de Assis, um quadro pintado por Giotto, que passa por ser o quadro mais provavelmente representativo da pessoa de Santo Antônio.

E se trata de uma pessoa de corpo hercúleo, de pescoço taurino, forte, de expressão de fisionomia séria, de olhar imperioso e majestoso.

Sua atitude corresponde a um Doutor da Igreja que ele era.

Comprei então algumas fotografias dessa imagem.

Ao mesmo tempo, comprei uma pilha de estampas iguais que eram vendidas às pessoas que iam à igreja também.



Santo Antônio, cf. representação de Giotto ( Legenda de São Franciso - Aparição de Arles - detalhe  )
Santo Antônio, Giotto, basílica de Assis
Santo Antônio - Iconografia eivada de sentimentalismoMas, elas representavam Santo Antônio, não de acordo com a probabilidade histórica do quadro de Giotto, mas de acordo com uma concepção que figura nas imagens comuns.

Então, um homenzinho imberbe, coradinho, com o Menino Jesus no braço, com um ar de quem não entende muito o que está fazendo com o Menino Jesus no braço.

O Menino Jesus também com uma cara de quem não entende muito o que está fazendo no braço de Santo Antônio, sorrindo os dois um para o outro como que dizendo: desculpe, aqui deve haver algum equívoco.

Nessas imagens de Santo Antônio, nada havia que falasse no Doutor da Igreja, nada que representasse o homem que era tido como o maior conhecedor do Novo e Antigo Testamento, - as Sagradas Escrituras.

Porque ele conhecia as passagens mais raras, mais excepcionais, mais ignotas de todas e tirava delas efeitos de pregação extraordinários.

E Santo Antônio, conhecido como o “Martelo dos Hereges”, como polemista, como homem que era capaz de discutir - não de "dialogar" (no sentido irenístico do termo *).

Ele era capaz de entrar em debate com os hereges e de achatá-los. Não havia ninguém como ele.

E ainda ele ficou famoso pelos milagres que completavam sua pregação e faziam com que fosse o terror dos hereges.

O verdadeiro Santo Antônio histórico é apontado pela Igreja para nosso modelo.

Insígnias militares de Santo Antônio
Insígnias militares de Santo Antônio
A imagem verdadeira desse grande santo desapareceu quase completamente. É uma figura física que nada tem a ver sobretudo com sua fisionomia moral.

Santo Antônio, além de ser o “Martelo dos Hereges” e a “Arca do Testamento”, é venerado como o Patrono das Forças Armadas.

A razão disso está em que Santo Antônio, em certa ocasião, foi objeto de um ato de devoção especial da parte de um almirante espanhol.

Uma esquadra espanhola sitiava a cidade de Orã, no norte da África, povoada de muçulmanos e não havia meio de conseguir resultado eficaz.

Então, o almirante espanhol dirigiu-se a uma imagem de Santo Antônio, colocou o chapéu de almirante sobre a imagem, deu-lhe as insígnias de comando e pediu-lhe que investisse contra Orã.

Os mouros fugiram inesperadamente. Quando interrogados, disseram que tinha estado entre eles um frade vestido com o chapéu do almirante e que tinha ameaçado Orã com o fogo de céu, e que por causa disso eles tinham achado mais prudente ir embora.

Quer dizer, este aspecto do “Martelo dos Hereges” que ao mesmo tempo incute terror aos mouros e que se apresenta a uma cidade infiel e a ameaça com o fogo do céu, todo esse aspecto foi abolido.

Santo Antonio, Tenente-Coronel de Infantaria do Exército, no Brasil. Convento de Santo Antônio, Rio de Janeiro
Santo Antonio, Tenente-Coronel de Infantaria do Exército,
no Brasil. Convento de Santo Antônio, Rio de Janeiro**
Aí vemos a lamentável deterioração da devoção aos santos em nossos dias.

Quer dizer, como eles já não representam, na legenda que em torno deles se criou, a verdadeira santidade.

Quem, por exemplo, comentará a respeito da vida de Santo Antônio, este fato que se deu no Rio de Janeiro e que foi o seguinte:

o Rio de Janeiro estava sendo cercado pelos calvinistas franceses e já estava quase completamente rendido e a cidade não tinha meios de resistir.

Os frades então tomaram a imagem de Santo Antônio, desceram com ela o morro, colocaram numa pilastra que se encontrava ali.

E a simples exibição da imagem, de um modo maravilhoso comunicou tal ardor na cidade, que grande número de jovens se alistaram, sendo possível reorganizar a resistência aos franceses, que depois de pouco tempo, foram embora.

De maneira que o Rio de Janeiro não se tornou calvinista e talvez com repercussão em toda a História da América Latina, e portanto em toda a História da Igreja, por causa dessa ação simbólica de presença maravilhosa de Santo Antônio.

Todas essas são coisas que não se dizem, não se contam, não se comentam e os senhores podem, através disso, verificar duas coisas: em primeiro lugar, como é lamentável esta torção que a vida dos santos sofreu.

Mas, por outro lado, também, como é admirável lutar para restaurar todas essas coisas e mostrar os próprios santos no seu aspecto combativo, no seu aspecto guerreiro, no seu aspecto polêmico, no seu aspecto contra-revolucionário, que a Revolução tanto gosta de esconder e de disfarçar.


(Autor: Plinio Corrêa de Oliveira, conferência de 12/6/65. Sem revisão do autor)
___________________

(*) O Prof. Plinio aqui se refere ao conceito irenístico do termo "diálogo", magistralmente descrito em sua obra "Diálogo e baldeação ideológica inadvertida".

(**) S. Antônio com as insígnias de Capitão de Infantaria: "Santo Antonio, cuja imagem esteve colocada na muralha do Convento, defendeu o Rio de Janeiro contra os franceses, o que lhe valeu a patente de Capitão de Infantaria". (“Santo Antônio – vida, milagres, culto”, pgs. 144-146, Frei Basílio Röwer )


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