Coroação de Nossa Senhora no Céu. Fra Angelico, Galeria degli Uffizi, Florença. |
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de política internacional, sócio do IPCO, webmaster de diversos blogs |
Um dogma de nossa Fé – o Céu e a felicidade eterna –, cuja importância torna-se patente, é, no entanto pouco conhecido pelos fiéis e, de modo geral, insuficientemente explanado.
Explica-se, pois, que, às vezes, ouçam-se frases como esta:
“O Céu deve ser um local sem animação (a qual, na mentalidade do homem moderno, é componente indispensável da felicidade), onde todos ficam eternamente parados, sentados em nuvens, ouvindo as infindáveis melodias dos coros angélicos...”
Essa distorcida noção do que seja a bem-aventurança celeste – infelizmente não rara até entre católicos–, revela uma ignorância crassa a respeito do prêmio que Deus reserva a seus eleitos, e da própria natureza divina.
Todos os católicos bem formados devem desejar ardentemente alcançar o Céu e tê-lo sempre presente em suas cogitações.
Especialmente em nossos dias, em que a civilização neopagã contemporânea tende para o oposto, em que os modos de ser, as manifestações de pseudo-cultura e pseudo-arte – a moderna e a pós-moderna – pendem para o horrível, o monstruoso... e, no fim desse processo, para o diabólico!
Exagero... pensará algum leitor. Para convencê-lo do contrário, basta lembrar um indício significativo: os temas cada vez mais frequentes na música o rock'n'roll são o inferno e Satanás.
Falando da glória dos santos no Céu, São João Crisóstomo diz que o último dos eleitos possui no Céu um esplendor e uma glória maiores que os manifestados por Jesus Cristo em sua transfiguração, pois, no Tabor,
Ele amenizou tal glória e esplendor para adequá-los à vista de seus três Apóstolos, São Pedro, São Tiago e São João.
Por outro lado, os olhos corporais não podem suportar um brilho que os olhos da alma podem aguentar perfeitamente. Logo, os Apóstolos não viam senão a glória exterior, enquanto no Céu veremos ao mesmo tempo a glória exterior e interior de Deus e de cada um dos eleitos.
Santa Teresa conta que, certo dia, o Divino Redentor mostrou-lhe sua mão glorificada. Para dar-nos uma ideia do esplendor desta mão, estabeleceu ela a seguinte comparação:
“Imaginai, diz a Santa, um rio muito límpido, cujas águas correm tranquilamente por um leito do mais puro cristal. Imaginai ainda, quinhentos mil sóis tão ou mais brilhantes que o Sol que ilumina a Terra.
“Figurai-os reunindo neste rio todos os seus raios refletidos pelo cristal sobre o qual o rio corre.
“Pois bem, esta luz deslumbrante não é senão uma noite escura, comparada com o esplendor da mão de Jesus Cristo”.
Santa Teresa refere-se apenas, à mão de nosso Salvador. Qual não será, pois, a luz e o brilho que emitem sua humanidade e sua divindade reunidas!
Juntai ao esplendor do Filho, o do Pai e o do Espírito Santo, o da Mãe de Deus, o dos coros dos Anjos, dos Patriarcas e o dos Profetas, o dos Apóstolos e dos mártires, dos confessores e das virgens e o de todos os santos, e tereis uma ideia do que é a glória celeste.
“Os bem-aventurados – observa Santo Agostinho – veem a Deus e sempre desejam vê-Lo, tão agradável é esta visão. E neste deleite descansam cheios de Deus.
“Nunca se afastando da bem-aventurança, são felizes. Contemplando sem cessar a eternidade, são eternos.Unidos à verdadeira luz, convertem-se também em luz.
“Ó bem-aventurada visão mediante a qual se contempla em toda sua beleza o Rei dos Anjos, o Santo dos Santos, a quem todos devem a existência” (De Anima et Spiritu).
E São Bernardo, meditando a felicidade celeste, exclama:
“Lá veremos o brilho da glória, o esplendor dos Santos, a majestade de um poder verdadeiramente real; conheceremos o poder do Pai, a sabedoria do Filho, a bondade infinita do Espírito Santo.
“Ó bem-aventurada visão, que consiste em ver a Deus em si em si mesmo em vê-Lo em nós, e em ver-nos n’Ele com uma feliz alegria e com uma inefável felicidade” (In I Medit., c. IV).
Os eleitos são iluminados pelo esplendor de Deus e pelo seu próprio esplendor que é o reflexo do de Deus.
O Criador, o eterno sol de Justiça, enche o Céu e os seus eleitos com o divino brilho.
Os santos são como outros tantos sóis submersos nos raios do sol supremo do qual recebem todo o seu brilho, ao mesmo tempo que cada um deles participa também do esplendor de todos os seus companheiros.
“No Céu, diz Santo Agostinho, não haverá ciúmes que provenham da desigualdade de amor. Todos se amam da mesma maneira.
“O Céu, acrescenta, será testemunha de um belíssimo espetáculo: nenhum inferior invejará a sorte dos que estiverem acima dele, como no corpo humano o dedo não tem ciúme do olho, nem os ouvidos da língua, nem os pés da cabeça”.
Um pequeno vaso cheio de líquido está tão repleto como um grande. Uma fonte cujas águas transbordam, está tão cheia quanto o mar.
Assim sucede com os eleitos. Deus está igualmente em todos. Porém, aquele que tiver acumulado mais, não dinheiro, mas fé, terá mais capacidade relativamente a Deus.
Tal caridade une perfeitamente os eleitos entre si: o bem que um eleito não recebe diretamente, ganha-o, de certo modo, pela felicidade que experimenta, vendo-o recebido por outro.
Ficam tão satisfeitos com o bem que cabe a seus companheiros, como se fosse o próprio bem.
E acrescenta Santo Agostinho:
“Uma terna mãe alegra-se com as carícias que fazem a seu filho querido, considera-as como se as concedessem a ela própria. Da mesma forma, cada um dos eleitos estima como feitos a si mesmo os bens que Deus oferece a seus companheiros de bem-aventurança”.
“Felicidade inefável a dos eleitos!
“O que cada eleito quiser, seja quanto a si mesmo, seja em relação a seus companheiros, ou ao próprio Deus, imediatamente se verificará.
“Existe outro reino comparável na Terra? Todos juntos com Deus serão reis, constituindo como que um só rei, como um só poder.
“Vi – diz São João no Apocalipse (7, 9) – uma multidão que ninguém podia contar, de todas as nações, de todas as tribos, de todos os povos e de todos os idiomas.
“Estavam de pé diante do trono e diante do Cordeiro portando vestimentas brancas com palmas na mão”.
Estas palmas significavam a vitória. Aos vencedores concedem-se honras reais.
Os eleitos verão a face de Deus. Seu nome estará escrito sobre suas frontes. Reinarão por todos os séculos dos séculos.
Gozarão constantemente da visão de Deus, como seus amigos e íntimos. Diante do Criador serão mais príncipes e reis do que servidores.
“Ó Senhor, exclama Santo Agostinho, quão glorioso será vosso reino, onde todos os Santos reinam convosco, revestidos de luz como de um manto e tendo sobre suas cabeças uma coroa de pedras preciosas!
“O reino da eterna bem-aventurança, onde sois, Senhor, a esperança dos Santos e o diadema de sua glória!” (Solilóquios, C. XXXV).
(Fonte: Tesoros de Cornélio a Lapide. Extratos dos comentários deste autor sobre as Sagradas Escrituras feitos pelo Padre Barbier. tradução da 2ª edição francesa. 2ª edição espanhola. Vich, Madri, 1882, pp. 226 e ss.)
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Essa vida está por um fio mas só Deus pode corta-lo... Que aflição! Mal posso esperar a minha hora. Deus me ajude para que eu esteja em santidade no meu momento.
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