Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de política internacional, sócio do IPCO, webmaster de diversos blogs |
É difícil para muitos, em nossos dias, compreender o temperamento apaixonado dos medievais, embora os desregramentos e pecados de hoje sejam em geral muito mais graves do que os de outrora.
Um caso interessante é o da família dos Plantagenetas, à qual pertencia Henrique II, duque de Anjou, que se tornou rei da Inglaterra.
Era seu contemporâneo de Luís VII, Rei da França, o qual se casou, ainda muito jovem, com Aliénor ou Eleonora, filha de Guilherme de Poitiers, duque da Aquitânia.
Com o falecimento prematuro de seu pai, Eleonora herdou o extenso e poderoso ducado da Aquitânia, cujas terras compreendiam quase todo o Sudoeste da França, do Poitou aos Pireneus.
Neta de Guilherme o Trovador, Eleonora era uma mulher brilhante, cheia de vida e de curiosidade, de espírito vivaz, inteligente e mundano.
Luís VII, ao contrário, era muito recatado e piedoso, tendo recebido sua educação do sábio abade Suger, que ergueu a primeira catedral gótica do reino em Saint-Denis.
Consciencioso, o rei quis expiar suas culpas indo à segunda cruzada, pregada por São Bernardo em Vézelay. Eleonora quis ir também com seu séquito.
Eleonora de Aquitânia em seu túmulo. Abadia de Fontevraud, França. |
Ora, a corte francesa já não via com bons olhos a leigeireza de costumes meridionais da rainha. Com o caso de Antioquia, as relações do casal real se deterioraram ao extremo.
Luís VII quis repudiá-la, Suger tentou contemporizar. Finalmente, um concílio reunido em Beaugency decidiu pela nulidade do matrimônio.
Dois meses depois, Eleonora casava-se com o turbulento Henrique II de Anjou, rei da Inglaterra, cognominado o Plantageneta. Com a herança de Eleonora, a monarquia inglesa tornava-se assim mais poderosa do que a francesa.
Henrique teve quatro filhos com Eleonora. Entretanto, as relações de família nunca foram boas. Em determinado momento, o rei encarcerou a rainha. Três de seus filhos se revoltaram e tomaram armas contra o pai.
Nossa Senhora de Rocamadour |
Um deles, Henrique Court-Martel, devastou então o vice-condado de Turenne e o Quercy, região onde se encontra Rocamadour.
Para puni-lo, Henrique II cortou-lhe a pensão e passou suas terras para o seu irmão, o célebre Ricardo Coração de Leão.
Como vingança, Court-Martel pilhou a abadia de Rocamadour e roubou o cofre com o tesouro de santo Amadour, constituído de pedras e jóias doadas por peregrinos, por vezes ilustres, que iam ao santuário.
Porém, quando o príncipe deixava a aldeia, os sinos começaram a tocar milagrosamente…
Abadia de Rocamadour, França. |
Seu pai despachou um mensageiro concedendo-lhe o perdão, mas o príncipe, agonizante, deitado sobre um leito de cinzas e com uma enorme cruz sobre o peito, logo expirou, enviando um supremo adeus a sua mãe.
Sem dúvida, os medievais cometiam por vezes crimes bárbaros, mas a sua alma não estava fechada à graça de Deus como a de tantos homens de hoje.
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