Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de política internacional, sócio do IPCO, webmaster de diversos blogs |
No último canto da Divina Comédia, Dante imagina São Bernardo dirigindo a Nossa Senhora uma oração na qual ele pede que seja dada ao poeta a visão de Deus.
Virgem Mãe, Filha de Teu Filho,
humilde e alta mais que (toda) criatura,
objetivo do eterno conselho (trinitário)
Tu és aquela que a humana natureza
nobilitaste tanto, que o seu Criador
Não desdenhou de fazer-se sua criatura.
No teu seio se reacendeu o amor
(de Deus para com o homem)
pelo qual, ardente na eterna paz,
fez germinar esta flor (a Igreja triunfante, formada pelos méritos da Redenção).
Aqui (no Paraíso) és para nós chama luminosa
de caridade, e na Terra, entre os mortais,
és de esperança fonte perene.
Senhora, és tão grande e tão valiosa,
que quem procura a graça e a Ti não recorre,
seu desejo quer voar sem asas.
A tua benignidade não somente socorre
a quem pede, mas muitas vezes
espontaneamente ao pedido se antecipa.
Em Ti misericórdia, em Ti piedade,
em Ti magnificência, em Ti se reúne
Tudo quanto na criatura existe de bondade.
Ora este (Dante) que desde a inferior lacuna do inferno até aqui (no Paraíso) tem visto as vidas espirituais uma a uma,
Suplica a Ti, por graça e força bastante, para poder com os olhos elevar-se mais alto rumo à Salvação Suprema (Deus)
E eu (Bernardo), que jamais pelo meu (próprio) ver me elevo mais do que ele consegue pelo seu ver (visão própria do homem), todas as minhas preces a Ti dirijo, e rogo, não são insuficientes, para que Tu lhe afastes toda nuvem
De sua mortalidade (para que afastes os impedimentos devidos à sua natureza humana mortal), com as preces tuas, de tal maneira que o Sumo Prazer (Deus) se lhe revele.
Ainda Te rogo, Rainha, que podes aquilo que queres, que conserves sãs (isentas do mal), depois de tanto ver (o Inferno, o Purgatório, o Paraíso e, agora, Deus), as suas disposições. E vença a tua custódia as paixões humanas (...)
(Autor: Dante Alighieri, “La Divina Commedia”, canto XXXIII, Giulio Einaudi, Turim, 1954, pp. 676 e ss.)
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