domingo, 11 de julho de 2021

A Santa Mão

Vallbona de les Monges Real Monasterio de Santa María
Vallbona de les Monges, Real Monasterio de Santa María
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de
política internacional,
sócio do IPCO,
webmaster de
diversos blogs







Na igreja do convento das Bernardas, de Vallbona, se conserva uma mão humana seca e apergaminhada.

A legenda conta que ela pertenceu a um monge do mosteiro de Santa Creus.

Neste mosteiro havia dois monges que, mesmo antes de entrar no convento, eram amigos inseparáveis.

Dentro do mosteiro continuaram com a boa amizade, fazendo sempre juntos suas orações, seus passeios e suas meditações.

Então prometeram-se mutuamente que, se um deles morresse, o que sobrevivesse rezaria todos os dias pelo outro, dizendo diante de seu túmulo um responsório.

Passaram-se os anos, e os dois monges não se separaram nunca, até que um deles morreu.

Seguindo o costume do mosteiro, foi sepultado no subterrâneo, no lugar destinado a ele, num sarcófago de pedra, como todos os companheiros que o haviam precedido.

No dia seguinte à morte, seu amigo desceu ao subterrâneo.

Ajoelhado diante da tumba, rezou devotamente o responsório, tal como havia prometido.

Ao terminar, viu, mudo de espanto, que a tampa do sarcófago se levantava para deixar passagem a uma mão.

Esta lhe deu a bênção, ficando um momento fora da tumba, quieta, como que esperando que ele a tomasse.

Nada disse o monge do que havia ocorrido, por temor de que se tratasse de uma alucinação, devido ao muito afeto que sentia por seu amigo.

Desceu no dia seguinte, rezou, e ao terminar, outra vez saiu a mão do amigo da tumba e lhe deu a bênção.

Todos os dias descia o monge, e todos os dias a mão do amigo o bendizia piedosamente.

O monge não se pôde calar por mais tempo.

Deu contas ao prior do que sucedia.

No outro dia desceram com ele o prior e toda a comunidade.

Iluminaram a tumba com círios bentos e cantaram todos um responsório pelo companheiro.

Quando terminaram, levantou-se a tampa do sarcófago, como ocorria todos os dias, e apareceu uma mão pálida, benzeu a seus companheiros e ficou depois um momento imóvel.

Santa Maria de Vallbona
Santa Maria de Vallbona
O prior aproximou-se então da tumba, e com olhos cheios de lágrimas pela emoção, tomou entre as suas a mão do monge.

Sem puxar, sem fazer esforço algum, a mão se desprendeu do corpo e ficou entre as do prior, que caiu de joelhos ante o milagre.

Durante muitos anos a mão se conservou na capela do mosteiro de Santa Creus.

Mais tarde foi trasladada ao convento das Bernardas, Vallbona, onde até hoje se encontra.



(Fonte: V. Garcia de Diego, "Antología de Leyendas de la Literatura Universal" - Labor, Madrid, 1953)



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